
As duas últimas famílias que residiam na área do dique do Sarandi, na zona Norte de Porto Alegre, deixaram suas casas nesta quinta-feira. A saída ocorre após ordem judicial para reintegração de posse da Prefeitura, para a liberação e retomada da obra na estrutura do dique. Das 57 famílias que residiam no local, três ainda seguiam em suas casas até o início da semana. Na quarta-feira, uma delas aceitou ser acolhida em uma casa modular. As outras duas estavam desocupando os imóveis nesta quinta-feira.
Uma destas famílias era da moradora Mariane Friedrich, que reside no local há 20 anos com o esposo e uma filha. Ela conta que, apesar de sair, ainda aguarda resolução do imóvel prometido através do programa Compra Assistida, da Caixa Econômica Federal. Segundo a moradora, a expectativa junto ao banco é de que, na próxima semana, possa ocorrer a assinatura do contrato para a aquisição do novo imóvel, que também ficará no Sarandi. Enquanto isso, eles seguirão morando no mesmo bairro, mas em uma peça na casa do sogro.
“A sensação é de que algo está inacabado, pois não estou saindo daqui para minha nova casa. Acreditava que a minha casa era a minha moeda de troca. Ainda não estou com a chave (do novo imóvel) na mão. Meu receio é que, saindo daqui, possa perder o outro imóvel. Estamos saindo por causa de uma ordem judicial, e não por vontade própria. Se já estivéssemos com a chave, ficaria mais tranquila”, lamentou Mariane.
Na tarde desta quinta, ela aguardava a chegada de um caminhão para a mudança, organizado pelo Departamento Municipal de Habitação (Demhab). Mariane conta que a família está desde sábado encaixotando os pertences para a saída do local. “Uma mudança programada e com tempo já é algo complicado. Quando tem que sair às pressas fica ainda mais difícil. Lá no meu sogro, vamos ter que nos virar com pouco espaço enquanto não nos mudamos para a casa nova. Daqui, vou levar as lembranças boas e ruins. Boas da minha família, da minha filha, e ruim da enchente. Mas seguirei acompanhando para saber se a obra vai sair realmente”, completou.
Como as construções serão destruídas por completo, as famílias aproveitam as últimas horas no local para remover, entre os pertences, algumas aberturas, como portas e janelas, além de equipamentos elétricos e fiação. A previsão é de que o processo de demolição e limpeza dure de três a quatro semanas, dependendo das condições climáticas, seguido pela preparação e limpeza do terreno, e do avanço no alteamento do dique, que deve durar de três a quatro meses. O projeto envolve a utilização de argila, em camadas, para a elevação da cota.
Atualmente, a altura do dique varia entre 4 e 4,5 metros. Com a obra, passará a ser de 5,8 metros. Em suas redes sociais, o prefeito Sebastião Melo celebrou o avanço das obras no dique. “A obra de fortalecimento da estrutura de proteção seguirá avançando a pleno vapor. Governança de verdade é isso: enfrentar problemas, dialogar e entregar soluções. Seguimos firmes e comprometidos com a proteção das pessoas e da cidade”, afirmou.
Fonte: Correio do Povo