Com 16 mortes confirmadas, o ciclone extratropical que atingiu o Rio Grande do Sul na semana passada é o maior desastre natural relacionado a chuvas intensas das últimas quatro décadas, divulgou hoje o governo estadual. Desde 1980, não há registros de outro episódio que tenha acarretado tantas perdas humanas em razão de enxurradas.
O evento gerou comoção social e mobilizou os órgãos governamentais no socorro e atendimento às vítimas. Até esta terça, foram notificados à Defesa Civil Estadual danos e pessoas atingidas em 48 municípios. Havia, no início da noite desta terça, 1.514 pessoas em abrigos públicos e 14.605 em casas de amigos e parentes.
Em novembro de 2022, a Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG) lançou um mapeamento das ocorrências de desastres naturais no Estado, analisando a distribuição provocada e a frequência. O material, elaborado a pedido da Defesa Civil Estadual, contempla o período entre 2003 e 2021.
O estudo teve como base a série histórica do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2iD), do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), que começa em 2003. No entanto, informações sobre mortos e feridos foram compiladas apenas para o período 2017-2021.
“Se considerarmos os demais episódios de inundações, enxurradas e vendavais do período estudado, houve mais eventos nos últimos anos, mas este de agora é o que mais provocou danos”, afirmou o diretor do Departamento de Planejamento Governamental (Deplan), Henrique Gomes Acosta, da SPGG.
Conforme o estudo da SPGG, entre 2017 e 2021, mais de 4,4 milhões de gaúchos foram direta ou indiretamente atingidos por desastres naturais em 482 municípios, havendo identificação de 14 mortes: cinco causadas por vendavais, quatro por enxurradas, duas por chuvas intensas, duas por tornados e uma por inundação. Nesse período, o número total de falecimentos ficou abaixo do contabilizado nesse único episódio de junho de 2023, o que evidencia a magnitude e a severidade dos efeitos do ciclone.
A série histórica do S2iD/MIDR aponta a ocorrência de outro evento do tipo extratropical, na região de Imbé, sem maiores danos humanos ou ambientais, em outubro de 2016. No entanto, é possível que outros eventos de ciclone tenham desencadeado episódios que, na base do ministério, foram classificados pelos municípios como vendavais, enxurradas, inundações, alagamentos ou chuvas intensas, por exemplo.
De qualquer forma, considerando-se os números contabilizados até o momento pelas Coordenadorias Municipais de Defesa Civil, os danos humanos gerados pelo evento da semana passada fazem dele o mais grave dos últimos anos, independentemente do tipo de desastre.
Para verificar dados anteriores ao ano de 2003, é necessário consultar outras bases. Uma pesquisa de Bernadete Weber Reckziegel, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), apresentada em 2007, realizou um levantamento dos desastres desencadeados por eventos naturais adversos no Estado entre 1980 e 2005. Segundo o estudo, nenhum deles causou tantas mortes como o ciclone deste ano.
O estudo cita, ano a ano, as ocorrências de desastres naturais em solo gaúcho. Um dos mais devastadores envolveu um deslizamento, em Estância Velha, de parte do aterro de uma rodovia, que soterrou duas moradias e provocou a morte de dez pessoas. Em maio de 1997, um vendaval provocou sete mortes na região de Tapejara.