Militares moderados perdem influência sobre Bolsonaro

Conselheiros militares que evitaram confrontos e rupturas na primeira etapa do governo já não integram grupo palaciano. Braga Netto é novo homem forte e corrobora com discurso presidencial

O ministro da Defesa, general Braga Netto | Foto: Marcelo Casal Jr / Agência Brasil / Divulgação / CP

A semana que termina, marcada pela escalada da retórica do presidente Bolsonaro contra o voto eletrônico, e pela dura resposta militar ao presidente da CPI, consolidou o que já era percebido apenas como um indicativo, desde a mudança na cúpula das três forças: a ascensão da influência do general Braga Netto, ministro da Defesa, sobre o presidente. O militar mostra afinação com Bolsonaro e concentra poder suficiente para obter dos comandantes das três forças inédita nota pública contra manifestações do senador Omar Aziz (PSD/AM), consideradas ofensivas às Forças Armadas.

Ao contrário da primeira etapa de seu mandato, quando militares moderados ocupavam cargos chave no Planalto e funcionavam como conselheiros do presidente, nesta segunda fase, as vozes ponderadas já não exercem a mesma influência sobre o titular do Planalto. Alguns foram substituídos, no correr do tempo, por representantes mais afinados com o presidente. Braga Netto ascendeu neste contexto e tem feito defesa firme dos pontos de vista do presidente perante interlocutores também do Congresso.

Na primeira fase, o grupo moderado conseguiu adiar conflitos de Bolsonaro com a cúpula do Legislativo e obteve, por exemplo, um armistício com o então presidente da Câmara, Rodrigo Maia – o que permitiu o andamento da pauta de interesse do Planalto. Também foi o mesmo time que abriu diálogo com o STF em momentos críticos da relação do Judiciário com o Executivo e encerrou o que caminhava para uma crise institucional.

O grupo também atuou para convencer o presidente a interromper os ataques diretos e diários aos jornalistas, na saída do Palácio do Alvorada, ainda que com a substituição das entrevistas por declarações a apoiadores. Assim como estabeleceu um contraponto a integrantes da “ala ideológica” do governo e à influência dos filhos sobre o presidente, insistindo na moderação das reações perante conflitos, como os que envolveram a China durante negociações para compra de vacinas e insumos.

Com o encolhimento do poder de influência desta ala, os novos conselheiros do presidente agora incluem também integrantes do Centrão, bloco de partidos com o qual Bolsonaro vive uma relação nem sempre de plena confiança. Paralelamente, também afeta as decisões e manifestações públicas do presidente uma rede de apoiadores, incluindo policiais, que têm acesso direto a Bolsonaro por meio de mensagens de texto e da promoção de mobilizações nas redes sociais.