Prisão de Fabrício Queiroz pode esclarecer quem matou Marielle, afirma o criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro

"Eu tenho certeza que as Forças Armadas jamais darão guarida para um grupo miliciano", opina o advogado ao descartar um golpe militar no país

Na visão do criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, que já defendeu dois ex-presidentes da República, 40 governadores e mais de 20 ministros, Frederick Wasseff não cometeu nenhum crime no exercício da sua profissão como advogado ao esconder Fabrício Queiroz em seu sítio em Atibaia. “Ele não cometeu nenhum crime, salvo que existisse uma ordem de prisão contra o Fabrício Queiroz. (…) “O caso é muito delicado porque existe uma relação pessoal dele (Wasseff) com a família presidencial”, afirmou.

Entretanto, o criminalista ressaltou que a postura do advogado do senador Flávio Bolsonaro, ao afirmar em diversas entrevistas que não sabia do paradeiro do ex-assessor do político, mesmo Queiroz estando há mais de um ano residência de Frederick Wasseff no município paulista, vai além da discussão na esfera ética e moral. “É uma questão política, não relacionada a moral profissional”, destaca Antônio Carlos.

Almeida Castro defende que “de tudo que se ouve e se sabe, através da mídia, a questão das rachadinhas é o menor dos problemas da família Bolsonaro”. Na visão do advogado, as ações que levaram a prisão de Fabrício Queiroz nesta manhã (18) “é uma ponta da investigação relacionada ao tema” que poderá revelar o envolvimento da família do Presidente da República com as milícias do Rio de Janeiro. Flávio Bolsonaro, principal alvo das investigações das “rachadinhas” se manifestou, através do Twitter, sobre as ações desta quinta-feira.

Antônio Carlos de Almeida Castro, afirma que Flávio Bolsonaro “não merecia uma nota de fim de página” antes de seu pai ser eleito. O próprio senador teve uma postura questionável em relação ao desaparecimento de Fabrício Queiroz. Flávio Bolsonaro, foi de “amigo íntimo” do ex-assessor para um “afastamento circunstancial”.

Para evitar confusões, Antônio Carlos achou necessário destacar que a operação desta manhã é responsabilidade do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) e que essa apenas contou com o apoio da Polícia Federal. O advogado parabenizou o trabalho independente do MP-RJ, já que o próprio presidente Jair Bolsonaro tentou federalizar essas investigações.

Na reunião ministerial do dia 22 de abril, que levou a renúncia de Sérgio Moro do cargo de ministro da Justiça, “houve uma clara tentativa do governo de acobertar os fatos”. “(Jair Bolsonaro) estava preocupado com essa investigação. (…) Ele se posiciona de maneira vergonhosa para controlar a Polícia Federal porque ela chegaria aos seus familiares”, opinou.

O próprio Sérgio Moro, se manifestou hoje sobre o tema, mas foi criticado pelo criminalista. “Eu responderia ao ex-ministro nefasto o questionando sobre o que ele fez, enquanto ministro, em relação à essas investigações. Por que ele não disse nada sobre da interferência na Polícia Federal antes?”

O MP carioca também é o responsável pela investigação do caso da morte da vereadora Marielle Franco. Na visão do criminalista, a prisão de Fabrício Queiroz pode revelar quem foi o mandante desse assassinato. “Felizmente, o Superior Tribunal de Justiça entendeu que não era necessário levar o caso para a PF. O que queria ser acobertado com essa mudança?”, questiona.

“É um momento de muita instabilidade”, analisa ao fazer referência as “ameaças do presidente ao STF”. Carlos de Almeida acredita que “o presidente está entregando cargos ao centrão porque a política funciona assim”, mas que essas negociações também “impedem que ocorra um novo impeachment”. O advogado acredita Rodrigo Maia, presidente da Câmara, faz o certo ao não levar adiante os mais de 40 pedidos de afastamento do presidente. “Não existe cenários político para isso. Não há segurança do apoio do centrão”, garante.

Sobre um possível golpe militar, o criminalista descarta a ideia porque as Forças Armadas são “competentes, sérios e comprometidos”, na defesa da população brasileira. “Eu tenho certeza que as Forças Armadas jamais darão guarida para um grupo miliciano”, garantiu.