Faltando 16 dias para o primeiro júri do caso Kiss, a reportagem do jornal Correio do Povo conversou com Luciano Augusto Bonilha Leão. O réu, de 42 anos, é o único que teve o julgamento marcado para ser realizado em Santa Maria. Outras três pessoas respondem criminalmente pela tragédia do dia 27 de janeiro de 2013, que matou 242 pessoas e deixou mais de 600 feridos.
Luciano iniciou a entrevista afirmando que foi contratado para trabalhar com a banda Gurizada Fandangueira, por R$50,00, no dia que ocorreu a tragédia. “Eu desempenhava a função de roadie, que tem como incumbência auxiliar os componentes da banda carregando as caixas de som, levar bebida para os músicos. No momento da apresentação, fui designado para acionar o artefato”, lembra. “Eu não sou um assassino e sim uma vítima da tragédia, que ocorreu por causa de uma fatalidade, e a demora do julgamento só provoca um tormento na minha pessoa”, diz o réu.
Bonilha Leão afirma que não são só quatro pessoas os responsáveis pela tragédia. “Onde fica a responsabilidade do Ministério Público, dos Bombeiros e da Prefeitura, que deram condições de funcionamento para a boate Kiss? Os pais têm direito de lutar por justiça já que perderam os seus filhos, eu faria o mesmo”, comenta.
Julgamento em Santa Maria
O réu afirma ter preferido o julgamento na própria cidade. “Optei para que o meu julgamento fosse em Santa Maria, já que é a terra onde sempre morei e, os que acompanharam as investigações e o inquérito, sabem que sou inocente”, complementa.
Luciano diz estar ansioso para chegar dia 16 de março. “Quero olhar no olho dos jurados e dos pais porque estou convicto que sou inocente. Se tivesse optado pelo desaforamento, eu seria um covarde”, afirma.
Trauma
Luciano Augusto Bonilha Leão ainda criticou a atuação do Ministério Público e que segue trabalhando para sustentar a família. “Minha vida está complicada, pois passo por um trauma que jamais pensei, que é poder ir para a cadeia. Tenho uma história de vida limpa e sempre trabalhei para ajudar o sustento da minha família, e agora, me deparo com algo que jamais imaginei: réu pela morte de 242 pessoas e mais de 600 feridas”, desabafa. “O Ministério Público está realizando ações que me deixam confuso, e uma delas foi o cancelamento das minhas cinco testemunhas durante o julgamento. Quero repetir: não solicitei desaforamento porque a sociedade de Santa Maria é quem deve julgar quem foram os responsáveis pelo que ocorreu naquela madrugada e a decisão foi minha e não dos advogados”, salienta.
Ao concluir a entrevista, Luciano afirmou: “Trabalho na noite e as irregularidades continuam persistindo nas casas noturnas, onde se nota extintores tapados e locais sem portas de emergência, e volto a lembrar, eu também sou vítima da tragédia do dia 27 de janeiro de 2013”, finaliza.
Julgamento
O primeiro júri do caso Kiss acontecerá dia 16 de março, com início às 10h, no Centro de Convenções da Universidade Federal de Santa Maria. Até o momento, somente o réu Luciano Augusto Bonilha Leão tem julgamento marcado para Santa Maria. Os outros réus (Elissandro “Kiko” Callegaro Spohr e Mauro Hoffmann, sócios da boate; e Marcelo de Jesus dos Santos, vocalista da banda Gurizada Fandangueira) não têm data definida para serem julgados. Os quatro respondem criminalmente por homicídio simples com dolo eventual e por mais de 600 tentativas de homicídio.