Único réu do caso Kiss com julgamento marcado para SM se diz inocente

Luciano Augusto Bonilha Leão será julgado dia 16 de março pelo envolvimento na tragédia da Kiss, que matou 242 pessoas e deixou outras 600 feridas

Luciano e os outros três réus respondem criminalmente por homicídio simples com dolo eventual e por mais de 600 tentativas de homicídio na Boate Kiss | Foto: Renato Oliveira/Especial/CP
Luciano e os outros três réus respondem criminalmente por homicídio simples com dolo eventual e por mais de 600 tentativas de homicídio na Boate Kiss | Foto: Renato Oliveira/Especial/CP

Faltando 16 dias para o primeiro júri do caso Kiss, a reportagem do jornal Correio do Povo conversou com Luciano Augusto Bonilha Leão. O réu, de 42 anos, é o único que teve o julgamento marcado para ser realizado em Santa Maria. Outras três pessoas respondem criminalmente pela tragédia do dia 27 de janeiro de 2013, que matou 242 pessoas e deixou mais de 600 feridos.

Luciano iniciou a entrevista afirmando que foi contratado para trabalhar com a banda Gurizada Fandangueira, por R$50,00, no dia que ocorreu a tragédia. “Eu desempenhava a função de roadie, que tem como incumbência auxiliar os componentes da banda carregando as caixas de som, levar bebida para os músicos. No momento da apresentação, fui designado para acionar o artefato”, lembra. “Eu não sou um assassino e sim uma vítima da tragédia, que ocorreu por causa de uma fatalidade, e a demora do julgamento só provoca um tormento na minha pessoa”, diz o réu.

Bonilha Leão afirma que não são só quatro pessoas os responsáveis pela tragédia. “Onde fica a responsabilidade do Ministério Público, dos Bombeiros e da Prefeitura, que deram condições de funcionamento para a boate Kiss? Os pais têm direito de lutar por justiça já que perderam os seus filhos, eu faria o mesmo”, comenta.

Julgamento em Santa Maria

O réu afirma ter preferido o julgamento na própria cidade. “Optei para que o meu julgamento fosse em Santa Maria, já que é a terra onde sempre morei e, os que acompanharam as investigações e o inquérito, sabem que sou inocente”, complementa.

Luciano diz estar ansioso para chegar dia 16 de março. “Quero olhar no olho dos jurados e dos pais porque estou convicto que sou inocente. Se tivesse optado pelo desaforamento, eu seria um covarde”, afirma.

Trauma

Luciano Augusto Bonilha Leão ainda criticou a atuação do Ministério Público e que segue trabalhando para sustentar a família. “Minha vida está complicada, pois passo por um trauma que jamais pensei, que é poder ir para a cadeia. Tenho uma história de vida limpa e sempre trabalhei para ajudar o sustento da minha família, e agora, me deparo com algo que jamais imaginei: réu pela morte de 242 pessoas e mais de 600 feridas”, desabafa. “O Ministério Público está realizando ações que me deixam confuso, e uma delas foi o cancelamento das minhas cinco testemunhas durante o julgamento. Quero repetir: não solicitei desaforamento porque a sociedade de Santa Maria é quem deve julgar quem foram os responsáveis pelo que ocorreu naquela madrugada e a decisão foi minha e não dos advogados”, salienta.

Ao concluir a entrevista, Luciano afirmou: “Trabalho na noite e as irregularidades continuam persistindo nas casas noturnas, onde se nota extintores tapados e locais sem portas de emergência, e volto a lembrar, eu também sou vítima da tragédia do dia 27 de janeiro de 2013”, finaliza.

Julgamento

O primeiro júri do caso Kiss acontecerá dia 16 de março, com início às 10h, no Centro de Convenções da Universidade Federal de Santa Maria. Até o momento, somente o réu Luciano Augusto Bonilha Leão tem julgamento marcado para Santa Maria. Os outros réus (Elissandro “Kiko” Callegaro Spohr e Mauro Hoffmann, sócios da boate; e Marcelo de Jesus dos Santos, vocalista da banda Gurizada Fandangueira) não têm data definida para serem julgados. Os quatro respondem criminalmente por homicídio simples com dolo eventual e por mais de 600 tentativas de homicídio.