Vale sustenta que não não havia risco de rompimento da barragem de Brumadinho

Mineradora rebate hipótese levantadas para tragédia em Minas

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Diretores da mineradora Vale contestaram hoje que o rompimento da barragem da Mina do Feijão, no dia 25 de janeiro em Brumadinho (MG), tenha ocorrido devido ao aumento dos níveis de água no reservatório, erro de leitura dos instrumentos, problema com as nascentes existentes nas proximidades ou ocorrência de tremores de terra. Além disso, segundo os diretores, laudos não apontaram risco de rompimento.

“Essa narrativa de que a barragem era insegura e de que houve aumento dos níveis de água não se sustenta. Especulações estão sendo feitas a partir de fragmentos de informação que, se mal interpretados, podem levar a conclusões equivocadas”, disse Luciano Siani, diretor de Finanças e Relações com investidores da Vale, em entrevista à imprensa no Rio de Janeiro. De acordo com ele, a barragem não recebia rejeitos desde 2016.

A Polícia Federal investiga se houve acúmulo de água na barragem, o que pode gerar o fenômeno da liquefação, quando o rejeito se torna menos sólidos e mais líquidos, e falhas no sistema de drenagem.

Segundo Lucio Cavalli, diretor de Planejamento e Desenvolvimento de Ferrosos e Carvão, a água das nascentes havia sido canalizada para fora das barragens e auditorias comprovaram que, ao longo do tempo, caiu o nível da água na barragem.

Os dois executivos também apresentaram documentos da Vale, entre eles um parecer técnico solicitado à consultoria IBPTech e emitido no último sábado. O documento revela que houve um problema de configuração na automatização de 46 piezômetros, dispositivo para monitoramento do volume de água. A mineradora sustenta que isso explica a troca de e-mails entre funcionários da Vale, cujo teor chegou a veículos de imprensa nos últimos dias.

“As leituras estão incoerentes. Favor verificar o que aconteceu. Ainda estamos sem leituras para prosseguir com o monitoramento desta barragem à montante. Priorizar isso! Se não encontrarem a falha me liga no celular”, escreve um dos emissores dos e-mails. De acordo com Cavalli, assim que o problema de configuração se resolveu, as medições se mostraram dentro da normalidade. “Houve indicação de diferenças de níveis absurdas. Se fossem verdadeiras as leituras, teríamos água jorrando na barragem ou água abaixo do nível da barragem”, disse.

Outro episódio relatado pelo diretor se refere à instalação de drenos horizontais profundos, em junho de 2018. Após a constatação de um problema em uma das perfurações, a Vale paralisou a ação e verificou a normalidade da estrutura após 24 horas.

Laudos
Foram apresentados também trechos do último laudo de estabilidade da barragem entregue em 25 de setembro de 2018 pela empresa Tüv Süd. O documento garante que a estrutura possuía fator de segurança acima do mínimo preconizado pela norma NBR 13028/2017. De acordo com os diretores, a Tüv Süd listou recomendações corriqueiras. Das 17, oito foram atendidas e havia nove em andamento, segundo a empresa.

Luciano Siani afirmou ainda que, apesar da licença ambiental obtida pela Vale em dezembro de 2018 para descaracterizar a barragem, nenhum obra havia sido iniciada. “Ainda estávamos cumprindo as condicionantes necessárias para se iniciar o projeto”. O diretor disse ainda que o pedido de descaracterização é ainda de 2015. Segundo ele, a mineradora está empenhada a ajudar nas investigações e todos os dados e documentos já foram compartilhados com as autoridades.

Sismos
Os diretores descartaram a possibilidade de que o rompimento tenha sido influenciado por sismos. Segundo Cavalli, ainda é preciso melhor investigação, mas dados preliminares da Vale apontaram não terem ocorrido tremores de terra na região no momento da ruptura, sejam naturais ou provocados.