Sem consenso entre hospitais e empresários, Marchezan adia possível lockdown em Porto Alegre

Rede de saúde chega perto do limite. Distanciamento rígido, porém, não vai ser adotado de forma unilateral, por enquanto

Foto: Anselmo Cunha/PMPA

O prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior, descartou, por ora, adotar um sistema rígido de circulação de pessoas, conhecido como lockdown, para frear a proliferação do novo coronavírus embora o sistema de saúde esteja perto do limite. Em função da escalada de contaminados e mortes na capital, Marchezan já externou a intenção de implementar a medida desde que tenha apoio dos hospitais e do empresariado. A cidade já conta com quase 250 óbitos em função da Covid. A meta de manter em 55% o distanciamento social, nunca se efetivou em dias úteis, chegando ontem a apenas 43%.

Nesta tarde, Marchezan participou de uma série de reuniões virtuais propondo uma divisão das responsabilidades para barrar a contaminação entre os porto-alegrenses. Assim como no encontro da sexta-feira, o prefeito voltou a pedir o apoio das entidades. Marchezan reconheceu que o momento é tenso, mas reiterou que não existe possibilidade, agora, de flexibilizar atividades sob o risco de colapsar a rede de saúde.

“Não estamos buscando culpados, mas não encontramos outras ferramentas reais que não seja restringir a circulação de pessoas para reduzir a contaminação. Os decretos não estão tendo a mesma eficácia que tiveram em março”, admite o prefeito, que ressalta que sem o consenso da cidade, não é possível decretar o lockdown.

Até o momento, Porto Alegre destinou 243 leitos exclusivos para atender pessoas com a Covid-19. No início da tarde desta quarta, dos 794 leitos de UTI da cidade, havia 678 ocupados (89,68%) – 326 (48,08%) por pacientes com sintomas de Covid-19. Desses, 286 já tiveram o diagnóstico confirmado.

A diretora-presidente do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Nadine Clausell, voltou a defender que é preciso reduzir a circulação de pessoas para diminuir a propagação do vírus. “Como gestora de hospital público, sou coerente aos dados técnicos e científicos. Cada um precisa fazer a sua parte”, afirmou. O diretor médico Milton Berger observou que a instituição está próxima do limite físico e humano de atendimento. Segundo o diretor do Grupo Hospitalar Conceição, Claudio Oliveira, o hospital abriu processo de seleção para contratação de médicos intensivistas para ter capacidade de abrir mais leitos, mas admitiu preocupação com o aumento de contaminações.

O presidente do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos do RS, Paulo Ricardo Siqueira, elogiou a coerência da prefeitura na tomada de decisões e disse que o prefeito não pode assumir essa responsabilidade sozinho.