
O secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, afirmou nesta terça-feira (29) que o país pode aplicar tarifa zero a produtos não produzidos nos EUA, como cacau, manga, café e abacaxi.
Lutnick não citou o Brasil — no entanto, os EUA são os maiores compradores do café brasileiro e têm participação significativa na aquisição de cacau (leia mais abaixo).
A tarifa de 50% imposta pelo presidente Donald Trump a todos os produtos brasileiros comprados pelos EUA começa a valer na próxima sexta-feira (1º).
“O presidente [Trump] incluiu que, se você cultivar algo e nós não cultivarmos, isso pode chegar a zero. Portanto, se fizermos um acordo com um país que cultiva manga ou abacaxi, eles podem entrar sem tarifa. O café e o cacau seriam outros exemplos de recursos naturais”, declarou o secretário em entrevista ao canal de TV norte-americano CNBC.
Lutnick reforçou, ainda, que a vigência da tarifa imposta por Trump ao Brasil começa na data prevista.
“Para o resto do mundo, teremos tudo pronto até sexta-feira”, acrescentou.
Após o anúncio de Trump, em 9 de julho (leia mais abaixo), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou a criação de um comitê interministerial para discutir a tarifa.
O grupo de trabalho é chefiado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Desde a criação, o comitê tem discutido com os empresários e os setores mais afetados pela decisão de Trump.
Compra de café e cacau
Segundo dados do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), os Estados Unidos são os maiores compradores de café do Brasil — tanto do item torrado quanto do não torrado.
Apenas em junho, os EUA adquiriram 15,9% do café não torrado vendido pelo Brasil, num total de US$ 148,2 milhões.
Também no mês passado, quanto ao café torrado — modalidade que inclui também extratos, essências e concentrados de café —, os Estados Unidos compraram 23,4% do que foi produzido pelo Brasil: US$ 21 milhões.
Os EUA também têm participação importante na compra do cacau brasileiro. Em junho deste ano, os Estados Unidos foram os maiores compradores de cacau em pó, manteiga ou pasta de cacau, com 42,6% de participação — US$ 22,5 milhões.
Quanto ao chocolate e outras preparações alimentícias com cacau, os Estados Unidos (12,2%) foram o segundo maior destino no mês passado, atrás apenas da Argentina (27,2%). No total, as compras chegaram a US$ 2,4 milhões.
Frutas
A participação dos EUA no mercado brasileiro de mangas e abacaxis é menos significativa que o fluxo de café e cacau.
Em 2024, os Estados Unidos foram o 17º maior comprador de abacaxis frescos ou secos, de acordo com números da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Foram 1,7 mil toneladas da fruta adquiridas, num total de cerca de US$ 4,1 mil.
Também segundo a Embrapa, em junho deste ano, os EUA compraram cerca de 0,6% da manga exportada pelo Brasil, a oitava maior porcentagem. Países como Holanda (52%), Portugal (9%), Reino Unido (5,6%), Argentina (2,7%), Coreia do Sul (1%) e Chile (1%) tiveram participação maior que a norte-americana.
Relembre
Em 9 de julho, Donald Trump anunciou que vai cobrar 50% de todos os itens do Brasil comprados pelos EUA a partir de 1º de agosto.
Segundo o republicano, a medida é uma resposta direta a supostos ataques do Brasil à liberdade de expressão de empresas norte-americanas e à forma como o país tem tratado o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Além de inelegível até 2030, o ex-presidente é réu no STF (Supremo Tribunal Federal) por tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito.
Para o líder norte-americano, o julgamento e as investigações que envolvem o ex-presidente brasileiro configurariam uma “caça às bruxas” que deveria “terminar imediatamente”.
Fonte: R7