
O conflito entre Israel e Irã, assim como o ingresso dos Estados Unidos no conflito e sua influência altista sobre o preço do petróleo, somaram-se às tarifas de Trump, tornando o cenário ainda mais nebuloso para os investidores. A dificuldade estende-se aos bancos centrais, o que acrescenta obstáculos à tomada de decisões de investimento.
Mesmo com a agenda repleta de pronunciamentos de autoridades do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), do Banco Central Europeu (BCE) e do Banco da Inglaterra (BoE) na semana da economia, a incerteza deve prevalecer. Embora os temores de recessão tenham se dissipado após indicadores apontarem avanço da economia dos EUA, o risco de baixo crescimento ou de estagnação com inflação elevada continua no ar.
Embora o comunicado que manteve a taxa de juros entre 4,25 % e 4,5 % tenha sido considerado dovish – referência à tendência para políticas monetárias mais estimulantes, que favorecem taxas de juros mais baixas e uma expansão da base monetária – o presidente do Fed, Jerome Powell, trouxe a incerteza de volta à mesa ao afirmar que espera elevação da inflação nos próximos meses em razão das tarifas de Trump – ponto reforçado na sexta-feira, 20, pelo Relatório de Política Monetária do Fed ao Congresso dos EUA.
O prognóstico não considerava os efeitos inflacionários de uma possível disparada do preço do petróleo diante do acirramento das tensões no Oriente Médio. Analistas projetam um aumento de US$ 3 a US$ 6 por barril nesta segunda-feira, 23. Assim, os dados do índice PCE da próxima sexta-feira, 27, indicador de inflação preferido do Fed, terão caráter mais estatístico e menor relevância para precificação, a não ser que revelem aceleração de preços acima das expectativas.
Já a leitura final do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre dos EUA deve apenas confirmar a retração provocada pelas importações antecipadas antes da vigência das tarifas. O testemunho de Powell no Congresso dos EUA – terça-feira, 24, na Câmara dos Representantes e quarta-feira, 25, no Senado – deve reforçar o tom de cautela e paciência em relação aos próximos passos.
As falas de outros dirigentes da autoridade monetária norte-americana tendem a seguir a mesma linha, com exceção de um ou outro integrante mais dovish, como Christopher Waller, que defende a possibilidade de corte de juros a partir de julho. Waller mostra-se mais prematuro do que os próprios investidores, que projetam dois cortes de 25 pontos-base nos juros este ano, a partir da reunião de setembro do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC). Essas apostas foram reforçadas pelas Projeções Econômicas dos membros do FOMC divulgadas na última semana. Já os economistas preveem apenas um corte, na reunião de dezembro.
CENÁRIO BRASILEIRO
No cenário local, a expectativa recai sobre a ata da reunião do Copom que elevou a taxa Selic de 14,75 % para 15 % ao ano. O documento, a ser divulgado na terça-feira, 24, pela manhã, esclarecerá como o colegiado vê a manutenção da Selic em patamar elevado por período prolongado, com possibilidade de retomada do ciclo de alta caso as expectativas de inflação permaneçam desancoradas e o nível de preços não convirja para a meta anual de 3 % no horizonte relevante da política monetária (fim de 2026).
O tom hawkish do comunicado, que descreve uma abordagem mais rigorosa, priorizando o controle da inflação e a estabilidade de preços, ao elevar a Selic , afasta, por ora, projeções de corte de juros pelo Copom. Ainda assim, a semana deve estimular o mercado a iniciar a precificação de reduções, com a divulgação de dados do setor externo de maio, da prévia da inflação de junho (IPCA-15), na quinta-feira, 26, e dos números do mercado de trabalho de maio e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), ambos na sexta-feira, 27.
Indicadores que apontem dinamismo na atividade econômica e no mercado de trabalho, além de perspectiva de desinflação lenta, tendem a postergar as estimativas de início da flexibilização monetária para meados de 2026. Por outro lado, dados que mostrem moderação do crescimento, com a inflação convergindo para o centro da meta de 3% ao ano, podem antecipar as projeções de corte da Selic para o início de 2026.
A política fiscal também terá peso relevante. A dificuldade do Executivo e do Legislativo federais em equilibrar as contas públicas e estabilizar a trajetória da dívida adiciona desafios ao trabalho do Copom de desinflacionar a economia brasileira. Entre os demais destaques da semana estão o Relatório Focus do Banco Central com as expectativas do mercado de financeiro nesta segunda-feira, 23, Confiança do Consumidor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) na terça-feira, 24 e IGP-M na sexta-feira, 27