
A inflação ao consumidor do Brasil de setembro será o grande destaque da semana, em meio a um parcial apagão de dados econômicos nos EUA devido à paralisação do governo pelo shutdown, o impasse sobre a aprovação do financiamento dos gastos públicos para o ano fiscal de 2026. O IPCA de setembro será divulgado na quinta-feira (9) pelo IBGE. A expectativa é de aceleração inflacionária, com a retirada do “bônus de Itaipu” nas contas de energia elétrica.
Apesar de as atenções iniciais recaírem sobre o número cheio, os economistas vão observar especialmente a inflação de serviços e seus núcleos, que estão rodando acima do teto de tolerância de 1,5 ponto percentual em relação ao centro da meta de 3%. No dia seguinte, o IBGE divulga os dados da inflação ao produtor (IPP) de agosto. A expectativa é de que o IPP tenha encerrado o período de deflação, conforme apontaram o IGP-M e o IGP-DI.
Mais para o começo da semana, as atenções ficam com a expectativa do IPCA para 2027, período que o Banco Central observa para a decisão da taxa Selic contidas no Relatório Focus, divulgado sempre as segundas-feiras. Nas duas últimas edições, a projeção para o índice ficou estável em 3,9%, e as quedas anteriores ocorreram em ritmo lento. No mesmo dia, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) apresenta a balança comercial de setembro. Na terça-feira, 7, será a vez do IGP-DI de setembro pela Fundação Getulio Vargas (FGV).
ESTADOS UNIDOS
Nos EUA, o foco será o Federal Reserve (Fed, banco central americano), com a divulgação, na quarta-feira, 8, da ata da última reunião de política monetária. Os investidores vão avaliar os pontos de vista do diretor Stephen Miran, recém-empossado após indicação do governo Trump, que defende um corte de meio ponto percentual na taxa de juros — em contramão ao restante do colegiado, que votou por uma queda de 25 pontos-base.
Ao longo da semana, vários diretores do Fed se apresentarão publicamente, inclusive o chair da instituição, Jerome Powell, na quinta-feira, 9. Embora as Projeções Econômicas do Fed indiquem um corte adicional de 50 pontos-base nas duas reuniões restantes do ano, a ala majoritária da autoridade monetária está impondo um freio de arrumação no ritmo de afrouxamento.
“Em linhas gerais, essa ala defende que os riscos referentes aos mandatos do Fed — estabilidade de preços e pleno emprego — são crescentes, sem ainda o efeito completo das tarifas de Trump sobre os preços nas próximas semanas, além de um mercado de trabalho em desaceleração, mas sem sinal de escalada na taxa de desemprego. Será comum ouvir dessas autoridades o termo “política monetária moderadamente restritiva” para justificar esse passo atrás em relação ao corte de juros”, comenta Leandor Manzoni, da plataforma Investing.com.
Em contraposição, autoridades como Christopher Waller e Michelle Bowmann devem enfatizar o enfraquecimento do mercado de trabalho para justificar a manutenção dos dois cortes de 25 pontos-base nas duas reuniões restantes, enquanto Miran defenderá uma flexibilização maior, de meio ponto percentual em cada reunião. Com a paralisação do governo dos EUA, os dados econômicos sob responsabilidade de órgãos estatísticos vinculados à Casa Branca devem continuar suspensos. Já os indicadores relacionados ao Fed serão mantidos, uma vez que a autoridade monetária possui orçamento independente.
Sem uma resolução do impasse no Senado, o Relatório de Emprego (payroll) de setembro, que deveria ter sido divulgado no último dia 3, segue suspenso. Caso haja um acordo que viabilize o retorno do funcionamento do governo, é possível que o payroll seja publicado em poucos dias, já que a coleta do mês passado foi concluída, segundo informações da CNN. “É importante mencionar que os dados que não foram divulgados nas datas estipuladas deverão ser apresentados apenas 10 dias após a solução do impasse”, diz Manzoni.