Jurado de morte, ex-integrante do PCC delatou plano contra Moro

Segundo testemunha, "NF" era o encarregado de levantar informações e sequestrar o ex-juiz da Operação Lava Jato

Foto: Mauro Schaefer/CP

Partiu de um ex-integrante do Primeiro Comando da Capital (PCC) a delação, ao Ministério Público de São Paulo (MP-SP), do plano da facção criminosa para sequestrar e matar o senador Sérgio Moro (União-PR). O jornal O Estado de S.Paulo apurou que esse ex-traficante, jurado de morte pelo PCC, virou informante das autoridades, sendo colocado no sistema de proteção a testemunhas.

Em uma das primeiras informações repassadas, o homem indicou quem era o “cabeça” do plano. Ele atribuiu a coordenação de toda a ação a Janeferson Aparecido Mariano Gomes, também conhecido pelas alcunhas de NF, Nefo, Artur e Dodge, suposto chefe nacional da “Sintonia Restrita”. O grupo funciona como um centro de inteligência e execuções de autoridades pela organização.

De acordo com a testemunha, NF ficou encarregado de levantar informações e sequestrar o ex-juiz da Operação Lava Jato. Quatro números de telefone de pessoas próximas ao traficante foram entregues às autoridades. O monitoramento começou a partir da quebra dos sigilos telefônico e de mensagem dos aparelhos celulares.

“O histórico criminal do depoente protegido e o fornecimento de dados simples, mas comuns em troca de informações do meio criminal (terminais atualizados para contatos momentâneos), levaram a instauração de inquérito policial para o aprofundamento de pesquisas em bancos de dados e diligências de campo”, relata a Polícia Federal em uma das representações enviadas à Justiça Federal na investigação.

A retaliação ao senador decorreu de mudanças nas regras para visitas a detentos – Moro proibiu as visitas íntimas em presídios federais quando era ministro da Justiça e Segurança Pública no governo Bolsonaro. Como ministro, ele também coordenou a transferência e o isolamento dos ‘cabeças’ da organização criminosa nos presídios de segurança máxima.

Como mostrou o Estadão, o PCC montou um relatório detalhado de reconhecimento do local de votação do senador, com descrição de acessos, rotas, câmeras e agentes de segurança. A PF acredita que os traficantes tenham cogitado agir no segundo turno da eleição.

O plano, que envolvia ainda atentados contra policiais e agentes penitenciários, tornou-se público nessa quarta-feira, na Operação Sequaz, que prendeu nove pessoas.

A decisão da juíza Gabriela Hardt, da 9ª Vara Federal Criminal de Curitiba, descreve o passo a passo das investigações, colocando o depoimento do ex-integrante do PCC no centro do inquérito.

Em momento algum, o despacho cita o promotor de Justiça Lincoln Gakyia, do Ministério Público de São Paulo, como alvo do ousado plano do PCC. Informações divulgadas nessa quarta-feira, durante as diligências da Sequaz, revelaram que o promotor também era alvo da facção. Há quase 20 anos exercendo o papel de investigador do PCC, Gakyia relata ser frequentemente ameaçado pela organização criminosa.