Em 2 de outubro, 21.496.709 brasileiros foram às urnas mas deixaram de votar em um candidato a senador. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a quantidade de votos nulos e em branco para o Senado voltou a ser a maior em relação aos demais cargos eletivos em disputa.
O dado registrado em 2022 corrobora uma tendência histórica, sobretudo nos anos em que é necessário votar em dois postulantes. Em 2018, última vez que isso aconteceu, o TSE contabilizou 63.012.277 votos nulos ou em branco.
Na avaliação de especialistas, um dos motivos para que isso aconteça é a pouca proximidade entre o eleitorado e os candidatos ao Senado. O cientista político Leandro Gabiati explica que políticos que concorrem a outros cargos, sobretudo deputado, governador e presidente, são mais presentes durante a campanha e conseguem maior identificação com a população, que vê nessas pessoas chances mais concretas de que políticas públicas importantes saiam do papel.
Não à toa, a votação para senador se tornou a única com mais de 20 milhões de votos nulos ou em branco. De acordo com o TSE, 5.452.653 eleitores votaram em branco ou nulo para presidente; 14.709.525, para governador; 12.986.522, para deputado federal; e 13.372.445, para deputado estadual ou distrital.
Candidatos famosos e eleição diluída
Na opinião de Gabiati, devido ao fato de o cargo de senador ser disputado principalmente por pessoas com longa trajetória na política e que já ocuparam outras posições de importância, é natural que abram mão do corpo a corpo e apostem apenas no próprio nome para fazer campanha.
“Sempre temos candidatos que foram ministros de Estado, governadores e até presidente da República. Então, isso talvez afaste esse tipo de candidato do eleitorado”, considera. Para o especialista, contudo, é importante que mesmo os candidatos com fama reforcem os laços com os eleitores. “Certamente, aqueles políticos que optem por uma campanha mais presente, com mais atos na rua ao lado de potenciais eleitores, podem ajudar a diminuir a votação de brancos e nulos para o Senado.”
O cientista político Valdir Pucci acrescenta que o formato das eleições gerais ajuda para que que os candidatos ao Senado acabem esquecidos pelo eleitor. “Isso é fruto do sistema eleitoral que temos no Brasil, que coloca em uma mesma eleição diversos cargos em disputa, desde presidente da República até deputado estadual, fazendo com que a observação do eleitor se dilua ao longo da eleição e os candidatos ao Senado fiquem à margem do processo”, opina.
Pucci pontua, também, que o trabalho do senador não é muito claro para o eleitorado. “Muitos brasileiros veem os senadores como um deputado de luxo, com oito anos de mandato, e não como um político com funções específicas do Senado Federal. E ainda há o agravante de que o senador representa o seu estado ou unidade da Federação, e não o povo diretamente”, frisa.
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