Um estudo de pesquisadores da Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul indicou que a transmissão da varíola do macaco pode ocorrer também por meio de superfícies, o que até então era considerado raro pelo meio acadêmico. A pesquisa de Richard Steiner Salvato, Regina Bones Barcellos e Letícia Ikeda vai ser publicada na edição de dezembro da revista científica Emerging Infectious Diseases, editada pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC), do estado americano da Georgia, indicando que devem ser reforçadas as medidas de proteção dos profissionais na linha de frente do cuidado a pacientes infectados com o vírus monkeypox.
A pesquisa, conforme Barcellos, virou referência internacional. Na última terça-feira, o grupo apresentou o trabalho em um seminário online realizado pelo European Center for Disease Prevention and Control (ECDC), na Suécia, que contou com a participação de pesquisadores e profissionais da saúde de todo o mundo.
“Nosso trabalho virou referência para o tema e está fornecendo informações para ações em tempo real”, afirmou o pesquisador da SES.
Segundo Salvato, os estudos foram aprofundados a partir da infecção de duas enfermeiras que desenvolveram a doença cinco dias após atenderem a um paciente em casa para coleta de material e diagnóstico de monkeypox. Ele disse que os cuidados adotados no atendimento seguiram as normas estabelecidas, incluindo o uso de luvas no momento da coleta da amostra.
“Assim que elas tiveram o diagnóstico de monkeypox confirmado, nós realizamos o sequenciamento genético do vírus presente tanto em uma das enfermeiras quanto no paciente e constatamos que se tratava do mesmo material genético”, afirmou. O pesquisador acrescentou também ter sido feita uma entrevista epidemiológica com as profissionais, tentando reconstruir o trajeto delas desde a chegada na casa do paciente à interação com ele.
A conclusão apontada é que as enfermeiras podem ter se contaminado pelo contato com superfícies infectadas da casa desse paciente, então no pico de transmissão viral. Há também a possibilidade de terem se contaminado ao manusear a caixa de transporte das amostras, de início com as luvas (infectadas) e, posteriormente, sem.
De acordo com Regina, trata-se de um achado de grande relevância, já que mostra que existe a possibilidade de transmissão do vírus por contato com superfícies contaminadas e que esse risco não é tão raro como se supunha. O fator pode, ainda, aumentar a transmissão da doença em ambientes hospitalares ou entre contactantes de familiares infectados pelo vírus.
Os autores sugerem medidas de prevenção e bloqueio dessa rota de transmissão, que envolvem treinamento específico para coleta de amostras do paciente, implementação de medidas de controle, higienização frequente das mãos e utilização correta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). O uso das luvas é recomendado durante todo o período de visita a pacientes, contato com pessoas suspeitas de estarem infectadas e com o ambiente e objetos de uso pessoal. A higienização das superfícies com desinfetante efetivo contra outros patógenos (como norovírus, rotavírus e adenovírus) – antes e depois da interação com casos suspeitos – e a vacinação dos grupos de alto risco, incluindo os profissionais de saúde da linha de frente, foram outras medidas apontadas pelo grupo da pesquisa.
Até esta sexta-feira, o Rio Grande do Sul havia confirmado 245 casos de varíola dos macacos, com mais 183 suspeitas ainda em investigação. Sozinha, a capital, Porto Alegre, teve 140 diagnósticos positivos até o momento.