Em meio à retomada do debate sobre a liberação da venda de bebida em estádios de futebol do Rio Grande do Sul, a Rádio Guaíba já ouviu autoridades e representantes de clubes gaúchos. Hoje, a reportagem busca a opinião de especialistas sobre o funcionamento da mente humana e sobre a realização de eventos de grande porte.
Para a psiquiatra e professora da Universidade Federal do Rio Gande do Sul (Ufrgs) Lisia von Diemen, que atua na área do alcoolismo há 20 anos, a bebida surte efeito desinibidor. “É um gatilho, pois diminui muito a capacidade de a pessoa conseguir conter aquela emoção. Por exemplo, quando a pessoa está com raiva vem o impulso de brigar, mas a pessoa sóbria tem mais chances de conter esse impulso e não ir para as vias de fato. A questão é que sob o efeito do álcool, a chance de conter o impulso é muito menor.”, compara.
A especialista entende que o futebol, por estar atrelado à paixão e ao fanatismo, pode gerar sentimentos de raiva e de frustração, que somados ao consumo em excesso de bebida alcoólica, podem causar episódios de violência. “Esse efeito do álcool para aumentar a impulsividade e diminuir a possibilidade da pessoa se conter é diretamente ligado ao nível de álcool que a pessoa tem no sangue”, detalha Lisia.
Já Gustavo Caleffi, que é diretor de Segurança do UFC América Latina e já trabalhou em eventos como Lollapalooza e shows do porte de Paul McCartney e Rolling Stones, considera que é nítida a diferença entre eventos em que o consumo de bebida alcoólica é permitido e proibido. Para Caleffi, os problemas são sempre maiores em locais que possuem a permissão.
Caleffi pondera, contudo, que pelo fato de o futebol ser um evento de curta duração, o risco de problemas pelo consumo de bebida é muito baixo. “A bebida, quando a gente fala em termos de segurança, ela vai potencializar riscos, porém a vida é feita de riscos. Eu entendo que, hoje em dia, já existe um histórico de jogos sem bebida em estádios e se percebe, certamente, que se for liberado nesse aspecto e se perceber um aumento da violência, certamente vai se ter informação suficiente para retroceder”, avalia.
O especialista detalha que na maioria dos grandes eventos a única bebida alcoólica comercializada é a cerveja, pelo baixo teor alcoólico. Por isso, Gustavo Caleffi defende que a sociedade seja testada. “Eu acho que, efetivamente, já se está num momento de testar um novo modelo e liberar o consumo de álcool. Eu sugeriria, com toda experiência que eu tenho, que fosse liberado apenas o consumo de bebida de baixo teor, como é o caso da cerveja”, salienta.
A polêmica deve se estender ao longo de 2022. Na volta do recesso do Parlamento gaúcho, a proposta que libera e regulamenta o consumo de bebida alcoólica em estádios vai passar por todos os trâmites até ser votada e encaminhada para o veto ou sanção do governador Eduardo Leite.
No próximo capítulo, a reportagem ouve as opiniões do Ministério Público do Rio Grande do Sul, um dos maiores defensores da proibição da venda de bebida, e do ex-comandante do Centro Integrado de Comando e Controle da Secretaria da Segurança Pública do Rio Grande do Sul, durante a Copa de 2014, período em que a bebida era liberada nas arenas gaúchas.
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