Realidade em empresas dos Estados Unidos, China e países da Europa, as preocupações ligadas a boas práticas ambientais e impactos sociais vêm ganhando importância no Brasil, inclusive no agronegócio. Composta pelas iniciais, em inglês, de Ambiental, Social e Governança, a sigla ESG (Environmental, Social and Governance) indica que cuidar do meio ambiente, ter responsabilidade social e adotar melhores práticas de governança pode, sim, trazer bons resultados, inclusive econômicos.
“Não basta mais oferecer somente preço e qualidade. Trabalhar com eficiência ambiental e colaboração social valoriza a empresa e traz maior competitividade. O conceito ESG está se tornando exigência da sociedade e do mercado, é um mantra que todos os negócios precisam colocar em prática”, afirma Edson Ortiz, biólogo e diretor da Divinut, uma das principais indústrias de processamento de noz-pecã da América do Sul e dona do maior viveiro de mudas de nogueira-pecã em raiz coberta do mundo e que, agora, também serve de exemplo na adoção desses modelos.
A empresa, com sede em Cachoeira do Sul (RS), nasceu com total comprometimento socioambiental, há 21 anos. Hoje é autossuficiente em termos energéticos, com práticas como captação e reutilização de água da chuva, uso de placas solares, presença de exaustores eólicos para a ventilação dos pavilhões, recuperação do solo e proibição do uso de madeira de extrativismo em qualquer dos seus ambientes. As iniciativas se estendem aos viveiros, onde mangueiras de irrigação e saquinhos para as mudas são feitos de plástico reciclado e os substratos são misturas de casca de noz-pecã com outras sobras industriais orgânicas, como casca de arroz, serragem e cinzas.
Além dos limites da sede, os projetos sociais da Divinut cruzam os caminhos da população da Região Central do estado, com a proposta de ações saudáveis voltadas à educação alimentar e combate ao desperdício. Na área de educação ambiental, são estimuladas a separação de lixo orgânico, coleta seletiva e produção de horta e minhocário em escolas. Há, ainda, a elaboração de um plano de fomento ao turismo rural receptivo na região, que é a maior produtora de noz-pecã no Brasil, e a valorização do patrimônio paleontológico, visto que os fósseis que são encontrados em abundância em municípios produtores do fruto, como Mata, São Pedro do Sul, Paraíso e Agudo.
Essa postura foi decisiva, recentemente, na renovação de contrato com uma grande empresa do ramo de panificação do centro do país. “Tivemos que enviar um relatório sobre as nossas ações socioambientais. Essa é uma demanda do mercado e dos clientes e se aplica, também, nas nossas exportações. Felizmente somos uma empresa alinhada a todos esses princípios, eles já fazem parte do nosso DNA”, reitera Ortiz.
Buscando ecoeficiência tanto no viveiro de mudas quanto no beneficiamento de nozes-pecã, as atividades da Divinut integram, em sua cadeia de fornecedores, mais de 3 mil produtores do Sul do Brasil, a maioria agricultores familiares. Além de opção de diversificação das atividades na propriedade, o cultivo de nogueiras é utilizado para sombreamento, oferecendo conforto térmico aos rebanhos de leite, de corte ou ovinos. Há, ainda, incentivo à participação dos filhos dos produtores em atividades que favorecem a sucessão familiar na propriedade e a permanência do jovem no campo.
Referência no segmento, a Divinut vem despertando, também, interesse do setor público e de entidades. Recentemente, uma comitiva de técnicos e engenheiros agrônomos da Emater/RS-ASCAR visitou a empresa em busca de informações sobre a atividade e o mercado, que está em contínua expansão. O encontro foi uma oportunidade para o intercâmbio de experiências e conhecimentos sobre a tecnologia de produção de mudas de nogueira-pecã, seu beneficiamento e o modelo de parceria desenvolvido pela empresa que, ao fornecer as mudas aos produtores, oferece suporte técnico, com visita às propriedades e orientações quanto ao preparo do solo, plantio e desenvolvimento do pomar.
Sintonizada com os novos tempos, a Divinut prepara, para o final de setembro, o lançamento de novas embalagens, contendo 100 gramas de noz-pecã, feitas com material 100% reciclável. Com os frutos embalados à vácuo, serão direcionadas para vendas diretamente ao consumidor final. “O nosso público está cada vez mais preocupado com o consumo consciente, ele quer colaborar com o planeta e sabe que vai ajudar um produtor da agricultura familiar. Estamos estimulando nossos parceiros a adotarem as mesmas práticas, acreditamos que essa é uma tendência sem volta”, aposta Ortiz.