Reportagem: Danton Júnior / Jornal Correio do Povo
Mediação: Sandro Fávero / Rádio Guaíba
Que a digitalização chegou ao campo para ficar, não há mais dúvidas. Mas como será o futuro da atividade agrícola e quais os desafios para que esse processo de consolide? Esse foi o tema da última edição do Correio Rural Debates desta Expointer, transmitido ontem, ao vivo, pela Rádio Guaíba e pelo YouTube do Correio do Povo.
O presidente do Instituto Desenvolve Pecuária (IDPec), Luis Felipe Barros, destacou o exemplo da própria entidade que ele dirige. Com dois meses de fundação, o IDPec foi criado a partir de conversas surgidas em um grupo de WhatsApp. “A virtualização foi o que possibilitou que nos comunicássemos”, ressaltou. Tanto que a primeira assembleia presencial ocorreu na última quarta-feira, na Expointer. Apesar disso, Barros vê a existência de um degrau grande entre o nível de digitalização da pecuária e o da agricultura.
Uma das formas de reduzir essa distância é o surgimento de aplicativos como o Negócio Direto, voltado a facilitar a compra e venda de bovinos de corte, lançado nesta semana em Esteio. Segundo Barros, entre as vantagens que isso traz está o fato de possibilitar negócios em qualquer dia da semana com pagamento pelo cartão de crédito. “A tecnologia vai nos aproximar e nos tornar eficientes. Estamos dando o primeiro passo para isso por meio do app”, resumiu o dirigente.
O engenheiro agrônomo Fabiano Simões, conselheiro da Câmara de Agronomia do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio Grande do Sul (Crea/RS), destacou que a questão da digitalização no campo está intrinsecamente ligada à busca por produção mais sustentável. Na avaliação dele, a agricultura do futuro vai ser “na ponta dos dedos”, impulsionada pela mudança que está ocorrendo dentro das universidades, com a adoção de cada vez mais tecnologias pelos estudantes. De acordo com ele, a transformação digital faz com que a atividade seja mais minuciosa, e exige que o produtor trabalhe de certa forma como um gestor de dados, de modo a transformar essas informações em produtividade. Como obstáculo a esses avanços, citou a questão da conectividade, e a dificuldade de acesso à Internet em diversas regiões do Estado, como nos Campos de Cima da Serra, em razão da declividade dos terrenos.
O coordenador de formação profissional do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural no Rio Grande do Sul (Senar/RS), Umberto Moraes, destacou que, por mais que haja evolução tecnológica, a atividade agrícola sempre será dependente das pessoas – mesmo com o processo de robotização, já em curso em algumas atividades do setor. De acordo com ele, muitos produtores rurais, com idades mais avançadas, têm dificuldades em operar as novas tecnologias, que são dominadas pelos mais jovens. Para esse público, o Senar conta com um programa de inclusão digital. Moraes observou ainda que, com o início da pandemia, diversas atividades da instituição passaram a ser ministradas on-line, por meio das novas ferramentas de comunicação. Ainda assim, ele disse acreditar que as aulas e cursos em formato presencial não correm risco de desaparecer.
O diretor técnico da Emater, Alencar Rugeri, afirmou que a pandemia de Covid-19 e as restrições de circulação aceleraram o processo de digitalização no campo. Rugeri considera que o sucesso na atividade está relacionado ao tripé planejamento, profissionalismo e gestão. “A digitalização vem para dar sustentação a esse tripé”, acredita. Como exemplos, citou os aplicativos de gestão utilizados na pecuária leiteira, atividade em que o controle de custos é fundamental. Outro exemplo é a Feira Virtual da Agricultura Familiar, que possibilitou um novo canal de vendas a agricultores familiares gaúchos que foram prejudicados pela pandemia. Ao mesmo tempo, as novas ferramentas ampliaram o poder de alcance dos eventos promovidos pela Emater, segundo o diretor técnico. Na definição de Rugeri, trata-se de um momento “fantástico” para a transformação do setor e que permite alcançar um novo patamar na comunicação com o consumidor dos produtos agrícolas.