A diretoria da Petrobras considera uma demissão em massa depois de o presidente Jair Bolsonaro ter anunciado a substituição de Roberto Castello Branco pelo general Joaquim Silva e Luna como CEO, disseram à agência Reuters três pessoas próximas à diretoria, pedindo para serem mantidas em anonimato.
Em nota divulgada em rede social, Bolsonaro informou que Roberto Castello Branco vai ser substituído pelo general Silva e Luna, ex-diretor geral da usina Itaipu Binacional e ex-ministro da Defesa.
A indicação de Silva e Luna precisa, no entanto, ter aprovação do conselho de administração da Petrobras, formado por membros indicados pelo governo, mas atuando com independência. O conselho deve se reunir na terça-feira para discutir a troca.
Com os seguidos aumentos no preço dos combustíveis, Bolsonaro já havia demonstrado insatisfação com o comando da Petrobras. Nesta sexta, durante visita à cidade de Sertânia, em Pernambuco, ele reafirmou que pretendia fazer “mudanças” na Petrobras após mais um reajuste no preço dos combustíveis, anunciado pela estatal nessa quinta-feira.
“Jamais vamos interferir nesta grande empresa e na sua política de preços, mas o povo não pode ser surpreendido com certos reajustes”, disse. Durante a visita ele ainda mandou um recado: “exijo e cobro transparência de todos aqueles que eu tive a responsabilidade de indicar”.
Reação negativa
A fala gerou reação negativa do mercado. O índice PETROBRAS PN desabou 6,63%, enquanto o PETROBRAS ON perdeu 7,92%, com os receios de interferência na política de preços da estatal.
A volatilidade criada com as declarações de Bolsonaro – as quais ele mesmo tentou relativizar, negando planos para interferir na política de preços da companhia – ainda deve interferir no mercado no início da semana.
Manifestações dúbias do presidente, que também tenta evitar ameaça de greve de caminhoneiros e a insatisfação popular com a escalada dos preços dos combustíveis, foram insuficientes para evitar uma derrocada das ações da petroleira, assim como de outras estatais federais, como Banco do Brasil e Eletrobras, e empresas de outros setores mais sujeitos a regulação do governo.
Para Leonardo Milane economista da VLG Investimentos, o episódio amplia o leque de preocupações do mercado em relação ao Brasil, num ambiente já tomado por um cenário fiscal frágil e de dúvidas crescentes sobre o andamento de agendas reformistas no Congresso Nacional.
“A agenda política está se sobrepondo à econômica”, disse ele, citando também itens como a possível aprovação de extensão do auxílio emergencial, que muitos temem que resulte na ruptura do teto para gastos públicos.