Pesquisa detecta nova variante em 91% dos casos de Covid no Amazonas

Indícios sugerem que mutação permite que coronavírus escape dos anticorpos produzidos a partir do contato com outras linhagens

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Foto: Ricardo Giusti / CP Memória

Pesquisadores encontraram a nova variante P.1 do coronavírus SARS-CoV-2 em 91% das 35 amostras que tiveram código genético sequenciado em janeiro no estado do Amazonas. O pesquisador Felipe Naveca, do Instituto Leônicas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), explica que a constatação consolida a variante como a dominante no estado, o que pode ser uma das razões para o aumento de casos de Covid-19.

Segundo nota técnica publicada pelo grupo da Fiocruz Amazônia em parceria com a Fundação de Vigilância em Saúde do estado do Amazonas (FVS-AM), o percentual de 91% representa “um aumento substancial” na circulação da variante, identificada pela primeira vez em uma amostra coletada em 4 de dezembro e presente em 51% das amostras analisadas no mês passado.

Foram sequenciados até o momento 24 genomas coletados em novembro, e em nenhum deles havia indícios da nova variante.

Mudanças já esperadas pela ciência

O surgimento de novas linhagens virais é um processo esperado, já que é da natureza dos vírus sofrer mutações conforme vão se multiplicando ao longo do tempo. No caso da variante P.1, o pesquisador Felipe Naveca explica que a mudança genética trouxe alterações na proteína spike, que forma a coroa de espículos que dá nome ao coronavírus e é a estrutura usada pelo micro-organismo para se conectar à célula humana.

Além de Manaus, a variante apareceu em pacientes dos municípios de Careiro, Anori, São Gabriel da Cachoeira, Iranduba, Rio Preto da Eva, Presidente Figueiredo, Tabatinga, Careiro e Manacapuru.

“Acreditamos, sim, que ela é uma das variáveis importantes relacionadas à explosão de casos, mas não é a única”, completa Naveca. “Tivemos uma diminuição do distanciamento social observada em uma crescente desde outubro e, principalmente, no Natal e no Ano-Novo”.

O estado do Amazonas e a capital, Manaus, tiveram em janeiro o pior momento da pandemia de Covid-19, com a média móvel de mortes atingindo mais do que o dobro do recorde registrado em maio do ano passado, segundo o painel de dados Monitora Covid-19, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Em 31 de dezembro, o estado do Amazonas tinha uma média móvel de 19,14 vítimas por dia, se considerados os sete dias anteriores. Em 26 de janeiro, essa média chegou a 139,14. Ao longo do ano passado, a pior média de mortes diárias no estado se registrou em 9 de maio, quando chegou a 65,86.

Reinfecção

A variante P.1 evoluiu a partir da linhagem B.1.1.28, que até então era dominante no estado do Amazonas. Pesquisadores japoneses, que analisaram amostras coletadas de quatro viajantes que estiveram no Norte do Brasil, encontraram a variante pela primeira vez. Autoridades japonesas comunicaram a descoberta ao Brasil, e, em 12 de janeiro, a Fiocruz Amazônia confirmou que a linhagem evoluiu no estado do Amazonas.

Os pesquisadores também confirmaram, em 13 de janeiro, o primeiro caso de reinfecção pela nova variante. Naveca explica que, além de haver estudos indicando que mutações semelhantes aumentaram a capacidade de transmissão, também há indícios de que a mutação permita que o coronavírus escape dos anticorpos produzidos a partir do contato com outras linhagens.

Os cuidados para evitar o contágio, no entanto, se mantêm. “As orientações são as mesmas: manter o distanciamento social, a utilização correta das máscaras, a lavagem das mãos por pelo menos 30 segundos ou o álcool em gel. São as mesmas recomendações relacionadas às outras variantes.”