Levantamento da Seplag traça cenário de gênero no RS

Dados demonstram cenário nada favorável para mulheres no Estado, principalmente para negras

A Secretaria de Planejamento do Rio Grande do Sul (Seplag) divulgou, nesta quarta-feira, um compilado de pesquisas que envolvem questões de gênero no Brasil. Em 2019, quase três em cada 10 mulheres brasileiras sofreram algum tipo de violência. Os dados demonstram um cenário nada favorável no estado, principalmente para mulheres negras.

A média de homicídios de mulheres em 2017 no Rio Grande do Sul foi maior do que a do Brasil. Enquanto o país registrou 4,6 mortes a cada 100 mil habitantes, no estado o número pula pra 5,1 a cada 100 mil habitantes. Dos 300 casos de homicídios de mulheres em 2017, 83 foram qualificados como feminicídio. Já as tentativas de feminicídio alcançaram 359 ocorrências em 2019.

As mulheres negras são as que mais morreram em 2017. No Brasil foram 5,7 negras mortas a cada 100 mil habitantes contra 3,2 brancas. Em solo gaúcho o número é levemente menor: foram 5,4 mulheres negras assassinadas contra 5 brancas a cada 100 mil habitantes. A titular da Seplag, Leany Lemos, aponta que os dados demonstram que o racismo é estrutural. “A mulher negra é a pessoa que tem a menor educação, a menor remuneração, a maior exposição a violência. O efeito é perverso sobre a qualidade de vida e o bem estar das pessoas”, disse.

Desigualdade no trabalho

As mulheres têm quase o dobro da carga de trabalho doméstico do que os homens. A média semanal de horas dedicadas às atividades de cuidados de pessoas e/ou
afazeres domésticos no RS foi de 20,4 horas por mulheres e de 11,6 por homens em 2018. Em relação ao Brasil, a variação é tímida: mulheres trabalharam 21,3 horas nos afazeres do lar contra 10,9 horas de trabalho por parte dos homens.

As realidades são ainda mais díspares quando a renda familiar é analisada. Na média semanal por faixas de rendimento domiciliar per capita e sexo, as gaúchas que têm renda de até um quarto do salário mínimo registraram, em 2018, 24 horas de dedicação ao lar por semana, contra 15,5 horas de trabalho doméstico desempenhadas por mulheres que tem renda per capita de mais de 5 salários mínimos.

Assédio

Quase quatro de cada 10 brasileiras relataram sofrer algum tipo de assédio em 2019. Nos que envolvem violência, 76,4% dos agressores eram conhecidos, sendo a maior parte parceiros ou ex-parceiros. A própria casa é o local de violência mais grave sofrida nos últimos 12 meses entre as brasileiras entrevistadas, onde ocorreram 42% dos casos. Em seguida aparece a rua, com 29,1% no ano passado. Em bares e baladas o assédio é menor do que no trabalho, sendo 7,5% no ambiente de trabalho e 2,7% nos locais destinados a diversão.

O estudo traz levantamento realizado em Porto Alegre em 2017, em que 43,7% das mulheres enfrentaram situação de assédio. As mais frequente são comentários desrespeitosos de sentido sexual (37,7%), toques sem consentimento (13,4%), beijos ou agarramentos à força (7,5%) e tentativas de se aproveitar da mulher alcoolizada (2,2%).

Denúncias

Segundo estudos avaliados pela Seplag, apenas um quinto das mulheres (27%) que sofre alguma violência procura órgãos oficiais. Esse número alcança 50% apenas no caso de tiro de arma de fogo contra a vítima. Apenas 7% dos municípios gaúchos, em 2018, responderam que possuíam serviço de acolhimento institucional para mulheres em situação de violência (de curta duração) e apenas 3% abrigos institucionais (de longa duração).