Num ano em que o consumo de leite longa vida no país superou as expectativas da indústria e cresceu 2,8%, batendo recorde, a receita do segmento caiu mais de R$ 2 bilhões, afetando a rentabilidade das empresas. Em 2017, a produção nacional ultrapassou os 7 bilhões de litros, de acordo com estimativa da Associação Brasileira da Indústria de Lácteos Longa Vida (ABLV). No ano anterior, havia somado 6,830 bilhões de litros.
O crescimento no longa vida, segundo o presidente da ABLV, Laércio Barbosa, foi estimulado sobretudo pela maior oferta de matéria-prima no ano passado, quando a produção brasileira de leite inspecionada avançou 4,1%, para 24,1 bilhões de litros. Mas a maior oferta – num mercado patinando – derrubou os preços do leite longa vida comercializado pela indústria, o que fez a receita do segmento recuar 13%, saindo de R$ 17 bilhões em 2016 para R$ 14,750 bilhões no ano passado, estima o presidente da ABLV.
“O crescimento da produção ficou acima da expectativa. Como houve aumento grande de produção de leite no ano passado, a maior parte da oferta adicional foi direcionada para o longa vida, que é um produto de giro mais rápido”, afirma Barbosa.
E o crescimento da produção doméstica de matéria-prima também desestimulou a importação de lácteos em 2017 (ver quadro) pelo país, diferentemente do ano anterior.
Embora tenha havido uma recuperação do consumo de leite longa vida no segundo semestre do ano passado – graças justamente aos preços mais baixos -, a rentabilidade da indústria nacional seguiu pressionada. A razão é que as cotações do produto vendido pelas empresas caíram mais do que as da matéria-prima.
Segundo o dirigente, os preços médios de venda do leite longa vida no atacado recuaram quase 16% entre 2016 e 2017, para R$ 2,10 o litro. As cotações do leite ao produtor no país também recuaram na mesma comparação, mas de forma menos acentuada – 8,8%, para R$ 1,14 o litro.
Ainda que o mercado de leite longa vida esteja apresentando um comportamento instável desde o início do ano, a expectativa da ABLV é de novo crescimento do consumo no país em 2018, até maior do que o do ano passado. “Se a economia do país crescer 2,5%, o segmento pode avançar além disso”, diz Barbosa.
Segundo ele, a recuperação ainda não é firme, e o mercado de bens de consumo, como o leite, tem refletido fatores que antes não pesavam tanto, como menor disponibilidade de dinheiro em determinados meses do ano. Mesmo assim, Barbosa é otimista e também prevê recuperação dos preços do leite longa vida após a forte queda do ano passado.
Entre fevereiro e março deste ano, os preços do produto já subiram. Conforme o último levantamento da Scot Consultoria, o valor médio do longa vida no atacado paulista saiu de R$ 2,21 o litro para R$ 2,36 em março.
O cenário já reflete os sinais de que a oferta de matéria-prima este ano deve crescer com menos ímpeto no país. Para a ABLV, o maior custos dos grãos usados na ração do rebanho leiteiro este ano e a acomodação dos preços ao produtor – no primeiro trimestre já houve queda de 10% em relação a igual período de 2017 – devem segurar o crescimento da oferta de leite. A previsão é de avanço de 2% a 3%.
Com quase 30 associados, a ABLV ampliou sua atuação e abriga agora também, além do leite, outros lácteos longa vida, como leite condensado, creme de leite e bebidas lácteas
(brasilagro.com.br)