A Páscoa é tradicionalmente associada aos ovos de chocolate, mas o impacto no bolso dos brasileiros vai muito além das prateleiras coloridas dos supermercados. A inflação da cesta de alimentos típicos da data revela um cenário mais amplo — e salgado — para quem pretende reunir a família no almoço pascal.
Dados analisados pela Rico mostram que, entre fevereiro de 2024 e fevereiro de 2025, os preços dos itens tradicionalmente consumidos na Páscoa subiram, em média, 5,28% — ligeiramente acima do IPCA do período (5,06%). Mas esse dado recente é apenas parte da história.
Ao ampliarmos o horizonte para os últimos cinco anos, a inflação da cesta de Páscoa — que inclui pescados, frutas, chocolates, biscoitos, leite condensado, açúcar, azeite e outros — chegou a 69,87%, contra uma alta de 35,43% do IPCA no mesmo período.
Confira a comparação dos itens nos últimos 12 meses:
Itens | Inflação acumulada (fev/24 – fev/25) |
Chocolate em barra e bombom | 16,53% |
Chocolate e achocolatado em pó | 12,49% |
Azeite de oliva | 14,16% |
Leite condensado | 8,98% |
Balas | 8,01% |
Frutas | 3,31% |
Manteiga | 4,97% |
Biscoito | 1,39% |
Pescados | -0,10% |
Açúcar refinado | -1,06% |
Açúcar cristal | -0,04% |
Morango | -5,34% |
Cesta de Páscoa | 5,28% |
IPCA (referência) | 5,06% |
E nos últimos cinco anos:
Itens | Inflação acumulada (jan/20 – fev/25) |
Azeite de oliva | 119,36% |
Açúcar cristal | 85,69% |
Açúcar refinado | 81,98% |
Morango | 81,24% |
Chocolate e achocolatado em pó | 69,81% |
Chocolate em barra e bombom | 56,43% |
Leite condensado | 55,05% |
Manteiga | 50,36% |
Biscoito | 46,23% |
Balas | 30,80% |
Pescados | 19,15% |
Cesta de Páscoa | 69,87% |
IPCA (referência) | 35,43% |
“Esse resultado mostra que produtos tradicionais da data, como chocolates, azeite de oliva e leite condensado, tiveram altas expressivas que puxaram a média para cima. O comportamento dos preços revela um cenário misto, mas que, no conjunto, manteve a Páscoa mais cara para o consumidor em relação ao ano anterior”, avalia Maria Giulia Figueiredo, analista de research da Rico. “Embora produtos como açúcar refinado, açúcar cristal e morango tenham registrado queda nos preços nos últimos 12 meses, alguns deles foram os que mais acumularam alta nos últimos cinco anos. Ou seja, a deflação recente pode ser mais um ajuste pontual após picos de preço do que uma tendência de alívio duradouro”, completa.
CHOCOLATE
A tradicional estrela da Páscoa, o chocolate, também segue pesando no orçamento. Além do açúcar (que acumulou alta superior a 80% em cinco anos), o cacau teve uma valorização de 173% apenas em 2024, em razão de problemas climáticos nas maiores regiões produtoras do mundo, como Costa do Marfim e Gana.
Mesmo com uma queda nos preços do cacau em 2025, essa redução ainda não foi sentida nos ovos de Páscoa, já que o estoque foi comprado anteriormente, a preços mais altos.
Além disso, a produção de ovos foi reduzida: a Abicab (Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados) aponta que foram produzidos cerca de 45 milhões de ovos em 2025, uma queda de 22,4% em relação a 2024. Com menos oferta, o impacto nos preços é inevitável.