O comércio varejista brasileiro registrou um crescimento modesto de 0,5% em setembro, conforme dados da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado ficou aquém das expectativas da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), que previa uma alta de 1,4% para o mês. Setores dependentes de condições de crédito, como móveis e eletrodomésticos, apresentaram desempenho fraco, reforçando as incertezas para 2025 em um cenário de juros elevados, inflação pressionada e orçamento familiar impactado pelo aumento das apostas on-line.
“Acreditamos que o varejo ainda enfrenta desafios estruturais que limitam um crescimento mais robusto, especialmente nas áreas que dependem fortemente de crédito”, comenta José Roberto Tadros, presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac. “No entanto, ainda há sinais positivos e acreditamos que, com uma gestão equilibrada das taxas de juros e da inflação, é possível seguir em um ritmo de recuperação sustentável”, pondera Tadros.
Em setembro, os segmentos com menor dependência de financiamento, como combustíveis e lubrificantes (elevação de 2,3%) e artigos farmacêuticos (alta de 1,6%), impulsionaram a leve recuperação do setor. Em contrapartida, móveis e eletrodomésticos registraram recuo de 2,9%, enquanto materiais de escritório, informática e comunicação caíram 1,8%, ambos afetados pelo ambiente de crédito restrito.
PRESSÃO
Itens essenciais, como hiper e supermercados (aumento de 5,1%) e farmácias e drogarias (expansão de 16,3%), continuam sendo os principais responsáveis pela expansão acumulada de 4,8% no ano, em relação a 2023. Desde fevereiro de 2020, esses segmentos acumulam crescimentos de 12,9% e 49,9%, respectivamente, sustentados pela demanda por produtos essenciais. No entanto, no varejo ampliado, que inclui veículos e materiais de construção, o cenário é mais volátil, com crescimento de apenas 3,2% em setembro.
A taxa de desocupação, que se encontra em 6,4% – o menor índice em doze anos -, e a expansão da massa real de rendimentos (crescimento de 7,7%) trouxeram um alívio temporário para o setor, sustentando o consumo. Porém, a CNC observa que os altos juros e a inadimplência, que chegou a 5,62% em setembro, elevam o risco de uma desaceleração ainda maior em 2025.
As pressões econômicas, como o aumento do câmbio e os ajustes inflacionários, lançam uma sombra sobre as perspectivas do varejo. A taxa de câmbio teve uma valorização acumulada de 19,3% ao longo de 2024, encarecendo bens importados e pressionando o consumo interno. O cenário inflacionário, junto do aumento das taxas de juros ao consumidor final, cria um ambiente desafiador para setores que dependem de crédito.
APOSTAS ON-LINE
Adicionalmente, o crescimento das apostas on-line, que têm atraído cada vez mais brasileiros, está se tornando uma preocupação para as finanças pessoais. Com anúncios massivos e facilidades de acesso, as plataformas de apostas virtuais têm afetado o orçamento de milhares de famílias, especialmente entre os jovens e trabalhadores com renda média. Estudos e dados de entidades de defesa do consumidor mostram que uma parcela significativa dos orçamentos familiares está sendo comprometida com apostas, o que reduz a capacidade de consumo em outros setores do varejo.
“A preocupação central é que o consumo de produtos financiados sofra ainda mais nos próximos meses, especialmente se as taxas de juros continuarem em alta e a prática das apostas on-line não for devidamente regulada”, analisa Fabio Bentes, economista da CNC. “Setores essenciais podem manter um desempenho razoável, mas aqueles que dependem de crédito ou de um orçamento familiar mais estável sentirão os impactos”, completa.
Apesar das incertezas, o setor deve encerrar 2024 em terreno positivo, com um crescimento moderado. Para 2025, no entanto, a combinação de juros altos, inflação, apostas on-line e incertezas no cenário econômico coloca em risco um avanço sustentável no varejo