Apesar do recuo nos últimos dias, a alta do dólar, que atingiu o seu maior patamar em dois anos e meio, pode afetar a indústria da aviação e trazer consequências negativas para o turismo doméstico. Atualmente, cerca de 60% dos custos das companhias aéreas — envolvendo gastos com combustível, aluguel e manutenção — estão atrelados à moeda. Para a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), essa elevação poderá pressionar os preços internos e dificultar as viagens dentro do País.
Embora não haja sinais dessa tendência no curto prazo — e seja verdade que a valorização do dólar também torne os destinos internacionais menos atrativos, favorecendo o deslocamento regional —, passagens aéreas mais caras causariam impactos significativos para o Turismo em geral, sobretudo o corporativo. O público dessa modalidade tem como característica a necessidade de realização de viagens para participar de eventos e feiras de negócios, ou visitas a clientes e filiais, pelo território nacional. Por outro lado, contribui para o mercado de turismo de proximidade (para destinos de curta e média distâncias), por meio da locação de veículos, de ônibus ou do próprio carro.
A taxa de juros norte-americana, que permanece em patamar elevado, tem gerado uma depreciação global das moedas, não sendo um movimento exclusivo no Brasil. No entanto, a moeda brasileira é uma das mais desvalorizadas nos últimos meses, o que mostra a necessidade de olhar para os desafios internos, sobretudo para a política fiscal e o equilíbrio das contas públicas. Diante da falta de perspectiva sobre os gastos do governo e com a taxa de juros dos Estados Unidos permanecendo como está, a tendência é que o dólar, pelo menos até o fim do ano, continue pressionado. Nesse cenário, consumidores e empresários precisam agir de forma estratégica no período, avaliando demandas e público.
O levantamento que avalia o Faturamento do Turismo Nacional, elaborado mensalmente pela FecomercioSP, apontou que, em abril, o setor faturou R$ 15,7 bilhões, registrando uma alta de 4,7% em comparação ao mesmo período do ano passado. O segmento com maior faturamento no mês foi justamente o de transporte aéreo, com R$ 3,73 bilhões e alta anual de 3,7%. De acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o número de passageiros por quilômetros transportados foi o maior desde 2015.
A oferta de assentos por quilômetro também cresceu, segundo a Anac, apontando o maior nível desde 2012. Foi um movimento importante de recuperação da oferta aérea, reduzindo a pressão sobre os preços das passagens, que, agora, podem encarecer novamente pela disparada do dólar. Uma ponderação relevante é que a inflação do setor vem demonstrando uma trégua em relação ao ano passado. Isso torna o volume de turistas que estão viajando de avião, hospedando-se em hotéis e alugando carros mais relevante, para o faturamento geral, do que os valores despendidos nas atividades turísticas.
Para se ter uma ideia, a inflação do Turismo, calculada pela FecomercioSP com base nas informações do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), foi de 0,7%, no acumulado dos últimos 12 meses (até abril). Há um ano, essa variação era de 21,5%. Em maio, houve elevação média nos preços de 1,45% [tabela 1], e o acumulado subiu para 8,4%, ainda num nível razoável diante do registrado nos últimos dois anos.
INFLAÇÃO DO TURISMO – Maio de 2024
O setor de locação de meios de transportes, com crescimento anual de 11,9% e faturamento de R$ 2,2 bilhões, foi o que mais se destacou positivamente, em abril, em termos de variação. No ano, a alta acumulada é de 12,3%. Também apresentaram variações importantes as atividades relacionadas a alojamento (9,6%); alimentação (3,3%); atividades culturais, recreativas e esportivas (5,6%); e agências, operadoras e outros serviços (4,4%), além de outros tipos de transporte aquaviário (5,1%).
Apenas o transporte rodoviário apontou retração no mês, caindo 1,2% e acumulando perda de 9,6%, nos quatro primeiros meses do ano. Esse desempenho está relacionado à base de comparação, já que, em 2022, o setor cresceu 30%. Um dólar mais caro deve favorecer os deslocamentos regionais nos próximos meses, uma vez que que os preços de viagens mais longas, como as de avião, podem ficar mais elevados.
FATURAMENTO DO TURISMO NACIONAL POR SERVIÇOS PRESTADOS
Abril de 2024
Os Estados do Amazonas e do Espírito Santo foram os principais destaques do mês na avaliação regional, obtendo variações de 13,9% e 13,4%, respectivamente. Na sequência, vieram Maranhão (12%), Sergipe (10,6%) e Santa Catarina (9%). São Paulo, que tem grande relevância para o faturamento do setor, voltou a crescer após uma sequência negativa, avançando 4,7% no contraponto anual.
Por outro lado, Tocantins, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul sofreram quedas respectivas 10,2%, 5% e 2,9%. No último caso, o estudo ainda não captou os efeitos das chuvas do início de maio, que causaram imensos impactos sociais e econômicos para a região. O Estado gaúcho, que conta com uma participação próxima a 6% no faturamento nacional, foi afetado na sua plenitude, com o fechamento do aeroporto e dificuldade de acesso às principais cidades turísticas, como Gramado.