Laboratório registra deslocamento de mancha de sedimentos do Guaíba para a Lagoa dos Patos

Sedimentos chegaram Sul do RS nos últimos dias, já estão saindo em direção ao oceano e devem causar impactos na pesca e na balneabilidade da região

Imagens de satélite dos dias 26 e 29 mostram a movimentação da mancha de sedimentos pela Lagoa dos Patos e saída para o oceano | Foto: LODS/Divulgação/CP

Desde o início das enchentes, no final de abril, a imagem de casas e cidades inteiras atingidas por uma água barrenta, com tons de marrom, foram a marca da catástrofe climática que assola o Rio Grande do Sul. Do Vale do Taquari à região Metropolitana, dificilmente houve alguma região atingida que não tenha registrado um acúmulo de sujeira e lixo vinda pelos rios e lagos. Assim como o curso da água, essa mancha de sedimentos se desloca.

Nos últimos dias, as partículas de terra, argila, areia, esgoto e resíduos chegaram à região Sul do RS. Desde o início da semana, imagens captadas pelo satélite Sentinel-3 e analisadas pelo Laboratório de Oceanografia Dinâmica e por Satélites (LODS), da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), aponta que a mancha de sedimentos que se deslocou do Guaíba para a Lagoa dos Patos já está escoando pelo canal dos Molhes da Barra.

Conforme o coordenador do LODS, o professor Fabricio Sanguinetti, apesar da manutenção dos ventos de Sul, em razão da formação do ciclone extratropical nas proximidades da costa do RS, não está ocorrendo o represamento das águas e da mancha de sedimentos. Apesar disso, a “pluma”, como também é chamada a mancha, ainda pode ser vista a olho nu no leito da Lagoa dos Patos. Alguns relatos dão conta de que é possível inclusive observar o limite da água barrenta para a “normal” na lagoa.

“É o sedimento em suspensão que dá essa coloração que a gente consegue visualizar por satélite. A água está transportando uma variedade de materiais advindos do Guaíba e das regiões dos rios afluentes que sofreram com as fortes chuvas, trazendo inclusive detritos maiores, como pedaços de vegetação. Alguns sedimentos afundam mais rápido, outros demoram mais. E são esses que demoram mais para afundar que alcançam maiores distâncias quando são conduzidos pela água”, apontou.

Segundo Sanguinetti, o transporte de sedimentos é uma ação natural, do continente para o oceano. Entretanto, a grande diferença neste caso, e que reflete na imagem registrada pelo satélite, ocorre em função da grande quantidade de chuva que atingiu o RS. “Essa exportação de sedimentos foi muito maior do que se vê em um cenário normal na Lagoa dos Patos”, completou o pesquisador.

Impacto na pesca e na balneabilidade da região Sul

A presença de uma grande quantidade de sedimentos na Lagoa dos Patos também poderá causar impactos para quem exerce atividades em função dela. Sanguinetti explica que a água com sedimentos e resíduos advindos do Guaíba pode estar contaminada. “A gente sabe que há contaminantes e poluentes, como esgoto doméstico, defensivo agrícola e resíduo industrial nestas águas. Parte disso vai ser distribuído ao longo da Lagoa dos Patos”, contou.