Chuva em excesso, Guaíba ainda em cheia histórica, sistema de bombeamento operando parcialmente e muito lixo espalhado pela cidade por conta ainda na primeira onda de enchente. Segundo especialistas na área da engenharia e de pesquisas hidráulicas, esta foi a receita para os alagamentos registrados em Porto Alegre desde esta quinta-feira, onde até mesmo regiões que não haviam sofrido com a cheia do início do mês tiveram pontos de inundação.
A água que subiu rapidamente pelas ruas não é do Guaíba, mas sim da chuva, que caiu e não teve por onde escoar ou não conseguiu ser bombeada, conforme o professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Fernando Fan, em entrevista ao programa Acontecendo, da Rádio Guaíba.
Já o relato do engenheiro e ex-diretor do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP), Augusto Damiani, em debate no Sindicato dos Engenheiros do Rio Grande do Sul (Senge-RS), aponta que o sistema de proteção contra cheias da capital atingiu seu limite, principalmente pela operação parcial das casas de bombas.
“As nove que estão funcionando com gerador não conseguem operam totalmente, elas estão com 40%, 50% ou 60% de operação. No Menino Deus, por exemplo, que tem duas casas de bomas, uma não está funcionando e a outra está parcialmente. Quando vem essa chuva torrencial, que desce do Morro Santa Tereza, a água não consegue ser bombeada e volta a sair pelos bueiros e se acumula nas ruas”, citou.
Além disso, Damiani reforçou ser contrário a uma das ações tomadas pela Prefeitura de Porto Alegre na tentativa de fazer escoar a água que estava no Centro Histórico. “Eu não teria aberto a comporta do Muro da Mauá. Quando eu abro a comporta, na minha opinião, eu perco o controle da relação do Guaíba com a cidade. Quando eu abro, é o Guaíba que manda na cidade”, completou, em referência à comporta número 3, que foi removida no último dia 17.
No mesmo debate, o engenheiro e ex-diretor do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (Dmlu), Darci Campani, ressaltou a necessidade da realização de limpeza nas bocas de lobo para evitar que o sistema sofra ainda mais por conta da dificuldade da água escoar. “Esse acúmulo vai para a boca de lobo e entope tudo. Na época que o DEP existia, o pessoal agradecia o DMLU por fazer essa limpeza. O processo de drenagem da cidade começa ali. A boca de lobo não pode estar cheia de lixo”, contou.
Surpresa com grande precipitação em poucas horas
Ainda na quinta-feira, dia em que os alagamentos se intensificaram na capital por conta da chuva, a Prefeitura e o Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae) realizaram uma coletiva e informaram que a previsão que receberam dos institutos de meteorologia contratados pelo estado apontavam chuva entre 60 milímetros e 100 milímetros na capital. Entretanto, conforme levantamento da MetSul Meteorologia, apenas no bairro Belém Novo foram registrados mais de 150 milímetros de chuva.
Além disso, o diretor-geral do Dmae, Maurício Loss, afirmou que as redes de drenagem, que levam a água até as estações, estão muito assoreadas, o que dificulta ainda mais o escoamento da água da chuva que atinge Porto Alegre. “Teve muita inundação que avançou sobre a capital nos últimos dias. É uma água barrenta e esse lodo começou a se depositar no fundo, tanto na rua, como nas redes. E inviabiliza e tira a capacidade da água fluir nas redes até as casas de bomas”, pontuou.
Ainda segundo Loss, todas as comportas que foram abertas nos últimos dias seriam fechadas, seja pelas portas ou por soluções alternativas com uso de sacos de areia, como na comporta 3, no Centro.