Lixo, lama e alagamento compõe quadro da devastação em Canoas

Bairro Mathias Velho foi um dos mais atingidos na cidade

Bairro Mathias Velho foi um dos mais atingidos pelas enchentes | Foto: Ricardo Giusti

Moradores começam a retornar para o que sobrou das residências no bairro Mathias Velho, o mais populoso de Canoas, na região Metropolitana. São cerca de 150 mil pessoas que têm casas na localidade, uma das mais atingidas pelo rompimento dos diques.

A água recuou, mas praticam metade da região ainda registra alagamentos. Embarcações são o meio de locomoção em pontos onde a inundação atinge um metro. Já locais onde é possível transitar a pé ou de carro, pilhas de lixo e móveis descartados se acumulam em calçadas recobertas por lama.

Nesta quarta-feira, a técnica em qualidade Márcia Guimarães, de 48 anos, tentava acessar a casa onde mora, na rua Itabaiana. No entanto, o lodo ressecado em portões e fechaduras impedia a entrada no imóvel. A água no local ultrapassou 2,5 metros, no auge da cheia.

“É a primeira vez que retorno para casa desde o início da enchente. Fui uma das últimas a sair do bairro. Resisti por quatro dias, mas tive que embarcar em um bote quando a água ultrapassou a linha da cintura”, relatou a mulher, que encontrou abrigo na casa de parentes.

A dona de casa Vera Rutkowski, de 62 anos, mora em uma residência no final da rua. O pátio da casa dela ainda está inundado até a altura dos joelhos, sendo que a água chegou a atingir o telhado.

“Eu residia com meus dois filhos, um padrinho e minha mãe, que tem 86 anos. Evito mostrar as fotos da tragédia para não deixar ela emocionalmente abalada. Nos mudamos para Esteio, onde moram familiares, mas retornamos para averiguar a situação. É muito triste”, lamentou.

Na rua Doutor Sarmento Leite mora o aposentado Olívio da Silva Farrão, de 68 anos. Nesta manhã, ele retirava móveis encharcados no interior do imóvel com o auxílio de um carrinho de mão.

“Perdemos quase tudo. Antes da cheia, minha esposa tinha me dito que a água atingiria níveis altos, mas nunca pensei que fosse chegar a tanto. O mais importante é que estamos vivos”, pondera o homem, que está abrigado na casa de uma filha.

No mesmo bairro, a movimentação de embarcações é constante em parte da rua Mato Grosso, onde a água ainda não recuou. É ali que Adriana Gonzales, de 52 anos, e o marido Rogério Poeta, têm uma estética.

A estimativa dela é que o prejuízo causado pela enchente ultrapasse R$ 50 mil. O casal decidiu permanecer no segundo andar do estabelecimento, apesar da água, por causa do receio de saques.

“Parece que ocorreu uma guerra. Os móveis e produtos estão revirados, uns por cima dos outros. Dizem que o mais importante é estarmos vivos, mas há 14 anos trabalhamos aqui, então posso dizer que perdemos parte da nossa vida. Já derramei tantas lágrimas que quase não consigo mais chorar”, concluiu a empreendedora.