Inadimplência das empresas no RS tem recorde de 14,48% em dezembro

Para pessoas físicas, o indicador aponta crescimento no estado e leve recuo na capital

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O percentual das empresas com restrição em crédito, cheque, protesto ou ação judicial no Rio Grande do Sul atingiu 14,48% em dezembro, um recorde histórico da série iniciada em junho de 2022, e superando em 0,18 ponto percentual em relação à leitura imediatamente anterior.  Os dados foram divulgados pela CDL Porto Alegre nesta quarta-feira, 10, no Indicador de Inadimplência segmentado.

Conforme o indicador, as empresas da capital também registraram incremento na mesma base de comparação: +0,10 ponto percentual (de 15,45% para 15,55%). Esse é o segundo valor mais elevado desde o começo do levantamento, perdendo apenas para outubro (15,57%). De acordo com as estatísticas do Mapa das Empresas, o total estimado de CNPJ’s com negativação em termos absolutos alcança 199.505 em nível estadual e 34.487 para a Capital.

Para pessoas físicas, o indicador aponta crescimento no Rio Grande do Sul e leve recuo em Porto Alegre. De acordo com o levantamento, o percentual de adultos com restrição em crédito, cheque ou protesto somou 30,65% em nível estadual e 33,18% para a Capital em dezembro. No RS, houve elevação de 0,22 ponto percentual em comparação com novembro, de modo que o resultado praticamente devolveu a queda verificada nos dois meses anteriores.

O economista-chefe da CDL POA, Oscar Frank, explica que parte expressiva desse avanço no indicador estadual (em torno de 40%) se deve ao município de Pelotas, cujo índice saltou de 31,9% para 35,1%. Segundo Frank, a prefeitura local enviou para inclusão no cadastro de negativados do SCPC da Boa Vista/Equifax cerca de 250 mil registros no valor de R$ 78 milhões em virtude de pendências com tributos, como o IPTU. A cobrança integra estratégia de fortalecimento da arrecadação visando a melhora da situação das contas públicas do município.

No mês de dezembro, em termos absolutos, 2,6 milhões de gaúchos estavam negativados, conforme estimativa que leva em consideração o Censo de 2022 (IBGE): aumento de 18,9 mil em comparação com a leitura anterior. Já para a Capital houve leve recuo, de 0,07 ponto percentual. Ao todo, são 356,7 mil pessoas inseridas no banco de dados.

ESTIMATIVA 

Conforme a Pesquisa Febraban de Economia Bancária e Expectativas, elaborada entre 20 e22 de dezembro de 2023, as instituições financeiras ainda preveem um cenário de dificuldade para a queda da inadimplência PJ no curto prazo, aponta o economista. Muito embora parte relevante dos respondentes (43,8%) acredite em estabilização do indicador do Banco Central – percentual de operações de crédito para as quais existe pelo menos uma parcela com atraso superior a 90 dias – em breve, a maioria (56,3%) não aposta que isso venha acontecer antes do primeiro trimestre: 31,3% aguardam crescimento até março, enquanto 25%, até meados do presente ano.

“Entendemos que a diferença para a tendência de acomodação observada nos dados PF nos últimos meses se deve, por um lado, à ausência de um ‘Desenrola Brasil’ para as empresas. Além disso, 2023 foi marcado pela expansão significativa dos gastos públicos, direcionados, em boa medida, para as transferências sociais via Bolsa Família”, avalia Frank.

Segundo ele, a prorrogação da faixa 1 do Desenrola Brasil até 31 de março pode ter suscitado comportamento inadequadamente propenso à formação de dívidas adicionais pela população. Além disso, a renda extra derivada do recebimento da segunda parcela do 13º Salário dos trabalhadores até 20 de dezembro muitas vezes é canalizada para gastos típicos com Natal e Ano Novo, diminuindo a margem para a quitação de débitos em atraso.

CENÁRIO POSITIVO

O economista afirma que o cenário econômico apresenta vetores positivos à inadimplência para 2024. “Em primeiro lugar, a desaceleração dos preços, a tendência de sustentação da taxa de desemprego em patamares deprimidos e a correção do salário mínimo acima da inflação são benéficas para a composição dos rendimentos da população”.

Ademais, continua Frank, o Copom continuará flexibilizando a política monetária. Os cortes da Taxa Selic contratados pelo Comitê no curto prazo se somarão aos efeitos defasados do início do ciclo de redução em agosto de 2023. “A retomada cíclica esperada para o PIB do Rio Grande do Sul, por meio da perspectiva de ausência de quebra relevante da safra de grãos 23/24 e da recuperação da indústria, abre espaço para que o crescimento se aproxime a 5,0% no ano. No entanto, a confluência dos referidos fatores não produzirá baixa vertiginosa nem regular do indicador”, comenta.