Lula chama de “loucura” poder de veto no Conselho de Segurança da ONU

Presidente brasileiro também criticou premiê israelense por querer "acabar com a Faixa de Gaza"

Foto: Rafa Neddermeyer/ABr

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta sexta-feira ser “radicalmente contra” o poder de veto no Conselho de Segurança da ONU. Na avaliação do petista, o mecanismo “não é democrático”, e trata-se de uma “loucura”. Recentemente, o Brasil, que preside provisoriamente o órgão, não conseguiu aprovar uma resolução que propunha uma pausa humanitária no conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas, na Faixa de Gaza, em razão de um voto contrário por parte dos Estados Unidos.

“A proposta do Brasil foi vetada por causa de uma loucura, que é o poder de veto. Sou totalmente e radicalmente contra. Isso não é democrático. Os americanos assumiram a responsabilidade pelo que fizeram”, disse Lula. “É por isso que queremos acabar com o direito de veto. Achamos que americanos, russos, ingleses, franceses, chineses, ninguém tem direito de veto. Se tiver dúvida, vota-se a maioria, ganha-se e cumpra-se”, completou. Na avaliação de Lula, é necessário haver uma reforma estruturante no grupo, bem como a inclusão de mais países relevantes na configuração diplomática mundial.

Atualmente, o conselho, que é responsável pela manutenção da paz e segurança internacionais, é composto de 15 países-membros – cinco deles com assento permanente e, portanto, com poder de veto: China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia. Os demais membros exercem as cadeiras provisoriamente, por dois anos.

As críticas ao Conselho de Segurança também fazem parte do discurso do ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira. Ele defendeu uma reforma e alegou que a configuração na época da criação da ONU não funciona na realidade atual. Na Comissão de Relações Exteriores do Senado, no dia 18, Vieira pediu a “modernização” dos quadros e disse que o grupo “precisa ser mais democrático e aberto, com participação maior de países importantes e relevantes”.

Posicionamento sobre a guerra
Em conversa com jornalistas, o presidente Lula explicou que o governo brasileiro não classifica o grupo Hamas de organização terrorista porque segue o que reconhece o Conselho de Segurança. “O Hamas não é reconhecido pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas como organismo terrorista porque disputou eleições na Faixa de Gaza e ganhou. O que nós dissemos é que o ato do Hamas foi terrorista. Dissemos isso em alto e bom som”, afirmou Lula. Ele acrescentou que “não é possível fazer ataque, matar inocentes, sequestrar gente da forma como eles fizeram, sem medir as consequências do que acontece depois”.

Por outro lado, o presidente também criticou a condução do conflito por parte de Israel e chamou de “insanidade” o primeiro-ministro de Israel querer “acabar com a Faixa de Gaza, esquecendo que lá não tem só soldado do Hamas, tem mulheres e crianças, que são as grandes vítimas dessa guerra”.

“Vou continuar falando em paz. Acredito que é a coisa mais extraordinária para tentar superar o poder das balas. Com o poder da conversa, isso [Mahatma] Gandhi ensinou muito, Jesus Cristo ensinou muito. O poder do diálogo é capaz de vencer a bomba mais competente que o ser humano seja capaz de produzir”, defendeu Lula, ressaltando que o Brasil exerce um papel importante na mediação do conflito.