Com sangue latino reforçado, o Inter aposta em um elenco recheado de jogadores sul-americanos para vencer o confronto contra River Plate e avançar na Libertadores.
Com a chegada do equatoriano Enner Valencia e do goleiro uruguaio Sergio Rochet, o elenco que já era cheio de “gringos” agora está com sete estrangeiros da América do Sul. Além do equatoriano e do uruguaio, o Inter ainda conta com o meio-campo chileno, Charles Aránguiz, os zagueiros Gabriel Mercado (da Argentina) e Nico Hernández (Paraguai), o lateral Bustos (Argentina) e o meia Carlos de Pena (Uruguai). É disparado o clube brasileiro com mais “gringos” na competição. Isso sem contar o técnico argentino, Eduardo Coudet e sua comissão técnica.
Mas afinal, o que esse número tão grande de jogadores da América do Sul pode ajudar em busca do Tri? Na verdade, não é de hoje que o Inter está acostumado a ter jogadores ‘de fora’ em suas conquistas. Figueroa em 1975, Rentería em 2005, D’Alessandro em 2010.
“É uma tradição do Inter em ter jogadores estrangeiros em seus elencos”, lembra o ex-zagueiro Fabian Guedes, o Bolívar. Para ele, o ambiente criado nos últimos anos pelo clube proporcionou esse “boom” que hoje é refletido no elenco “Internacional” que o Inter possui. “Eles se sentem à vontade”, comenta.
Bi-campeão da América pelo Inter em 2006 e 2010, e capitão na segunda conquista, Bolívar aponta as vantagens de ter estrangeiros na competição, principalmente no que se refere ao quesito da língua espanhola, predominante na competição. “Às vezes, em um lance polêmico eles (jogadores) falam mais rápido com os árbitros”, salienta.
“Eles têm essa malandragem, e o juízes respeitam muito os jogadores sul-americanos”, complementa o ex-goleiro Clemer, campeão da América e do Mundo pelo Inter em 2006. Ele também participou do Comissão Técnica que preparava os goleiros na conquista de 2010. “Jogador brasileiro é considerado cai-cai e quando se tem mais jogadores (estrangeiros) eles já respeitam mais. Isso acrescenta muito”, destaca.
Pênalti revertido
Eram corridos pouco mais de 7 minutos do segundo tempo. Inter e Deportivo Quito, em jogo disputado pelo Grupo D da Libertadores de 2010, empatavam em 1 a 1, quando uma bola alçada na área do Inter quase mudou o futuro da partida. Sem pestanejar, o juiz da partida, o colombiano José Buitrago, apitou um suposto pênalti cometido pelo goleiro colorado, o argentino Pato Abbondanzieri. Foi quando começou a confusão. Ninguém esquece do lance em que o experiente arqueiro, então com 37 anos e já tricampeão da América pelo Boca Juniors, conseguiu reverter a marcação do pênalti.
“Foi bizarro. Houve um lançamento para o atacante deles. O Pato acabou saindo para pegar a bola e trombou com ele. O juiz acabou marcando pênalti”, relembra Bolívar, que naquele jogo viu tudo do banco de reservas, pois se recuperava de uma lesão.
Inconformado com a marcação, Pato não se cansou até o juiz retomar o lance. “Todo mundo foi pressionar o árbitro, mas quem reverteu a marcação foram o quarto árbitro e o bandeira, que foram as pessoas com quem o Pato foi falar”, detalha. “O Pato conseguiu anular o pênalti que o juiz tinha marcado. Foi importante”, lembra Clemer. Para os dois, Pato teve papel importante na reversão do pênalti, que acabou não sendo cobrado.
Qualidade e experiência no enfrentamento contra o River
Em 2010, quando o Inter foi campeão do torneio pela segunda vez, o elenco tinha cinco estrangeiros: Pato Abbondanzieri (Argentina), Sorondo (Uruguai), Bruno Silva (Uruguai), Guiñazu (Argentina) e D’Alessandro (Argentina). Em 2006, apenas Rentería. Apesar das semelhanças serem maiores com o time bicampeão, Bolívar e Clemer ressaltam que o idioma é um detalhe importante, mas que um elenco precisa de qualidade e experiência.
“Em 2006, nós tínhamos a mescla de jogadores jovens, como eu, o Sóbis, o Alex e a experiência do Clemer”, elenca Bolívar. Clemer inclusive lembra que aquele elenco aprendeu a jogar competições sul-americanas nos anos anteriores, quando perdeu por dois anos seguidos para o Boca Júniors, pela Copa Sul-Americana. “A gente aprendeu tomando aquelas pancadas.”
Nesse quesito, os ex-jogadores acreditam que o Inter pode fazer um enfrentamento de igual para igual contra o River na terça-feira. “Não adianta só trazer jogadores de fora, eles tem que agregar qualidade”, avalia Clemer.
Para o ex-goleiro, o Inter vem forte no jogo contra o River Plate, em Buenos Aires, e acha que até mesmo a vitória é possível. “Na verdade, o Inter agora está em outro patamar. Tem que jogar igual a clube grande. Eu lembro de uma frase que o Paulo Paixão dizia ‘a gente tem que marcar bem, mas tem que dar um susto nos caras lá na frente’. É o que o Inter precisa fazer nessa terça,” sugere.
“O Inter chega muito forte. O River sabe que vai enfrentar uma equipe muito forte”, opina Bolívar, que ainda ressalta que os primeiros noventa minutos são fundamentais para conseguir a classificação. “É fundamental voltar vivo, mas o Inter tem jogadores experientes e vai saber fazer uma grande partida”, conclui Bolívar.
Inter e River Plate fazem o primeiro duelo pelas oitavas de final da Copa Libertadores nesta terça-feira, no estádio Monumental de Nuñez, em Buenos Aires, às 21h, no horário de Brasília. O jogo da volta está marcado para o dia 8 de agosto, também às 21h, no Beira-Rio.