Representantes de movimentos ambientais de Porto Alegre se reuniram na manhã deste domingo junto à sede do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), ao lado do Parque Harmonia, para divulgar um novo manifesto público em defesa da manutenção do Acampamento Farroupilha. A divulgação ocorreu ao mesmo tempo em que ocorria no outro lado do parque, junto à Rótula das Cuias, uma manifestação do movimento de tradicionalistas, de opiniões contrárias, que defende as reformas em curso no parque.
Os representantes das entidades ambientais pedem o aprofundamento das discussões sobre os aspectos da obra e a gestão adequada de resíduos, entre outros, e criaram, para isso, o movimento Salve o Harmonia, com mais de 30 participantes. “Consideramos ser um contrassenso por parte do MTG que permita que, nesta área onde há a cancha reta, haja uma roda-gigante”, aponta o professor do Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e coordenador do Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (InGá), Paulo Brack.
Ainda de acordo com ele, outra contradição é que as obras vão gerar “ilhas térmicas”, ou seja, áreas da cidade em que a temperatura média é maior em razão da ausência de árvores. Os movimentos lembraram, ainda, da representação encaminhada pelo Ministério Público de Contas (MPC), na semana passada, ao Tribunal de Contas do Estado (TCE-RS), baseada em um pedido aberto pelo InGá e outras entidades, solicitando a suspensão ou limitação das obras por supostas irregularidades. O argumento dos ambientalistas cita uma entrevista recente de Alan Cristian Furlan, ex-diretor da GAM3 Parks, administradora do Parque Harmonia, em que ele aponta ter havido descaracterização do projeto original de reforma do espaço.
As árvores citadas pela GAM3 Parks e pela Prefeitura como compensação não convencem os movimentos, que respondem que as mesmas “poderão demorar até 40 anos para ficar da altura atual”, não removendo, portanto, a mesma quantidade de gases causadores do efeito estufa da atmosfera. Brack prevê que o Acampamento Farroupilha, da forma como projetado para os próximos anos, considerando as obras no parque, vai acabar sendo deslocado a outro lugar de Porto Alegre.
“Provavelmente os organizadores não vão conseguir mais se estabelecer aqui nos próximos anos, e a Prefeitura já está pensando em deslocá-lo para outra área, porque não vai existir mais a paisagem típica campeira. No processo, estão dizendo que queremos fechar o Harmonia. Não é verdade. Queremos a suspensão das atividades externas ao Acampamento, onde há a destruição da vegetação e da fauna”, disse ele, destacando que, entre os parques da capital, o Harmonia é o que conta com o maior número de aves, que perderam habitat com as obras em andamento.
Secretaria da Cultura emite posicionamento
Já a Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa emitiu nota em que lembra que são os próprios acampados os responsáveis pela criação do cenário típico do tradicionalismo do Acampamento Farroupilha. A pasta também lembra que a concessão prevê que os galpões temáticos fiquem no parque, de forma permanente. Veja a íntegra da nota:
A Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa lembra que o campeirismo ganha destaque, anualmente, durante o Acampamento Farroupilha. Neste período, ergue-se no parque uma verdadeira cidade cultural formando o cenário típico do tradicionalismo. A paisagem campeira é erguida pelos acampados, levando a identidade dos galpões e projetos culturais para o Harmonia. Todas as decisões relativas à festividade são coordenadas pela Comissão dos festejos, integrada por diversas instituições públicas e da sociedade civil, ligadas ao tradicionalismo, de modo que cada ação é construída com diálogo entre todos os atores que realizam o acampamento. Além disto, serão montados os galpões temáticos que deverão ficar em caráter permanente no Parque Harmonia.