Entenda por que o término do acordo de grãos da Rússia pode levar pessoas à fome

Ao longo de um ano, o tratado permitiu a exportação de mais de 32 milhões de toneladas de cereais ucranianos

Foto: Reprodução / Twitter / Kremlim

A Rússia anunciou, nesta segunda-feira, o término da participação do país no acordo de grãos do mar Negro, que permitia à Ucrânia exportar grãos pelo mar. Entidades como a Organização das Nações Unidas (ONU) demonstraram preocupação temendo que o fim do tratado possa levar milhões de pessoas à fome.

O acordo vinha ajudando a aliviar a crise alimentar mundial provocada pela guerra na Ucrânia. O país fornece alimento a vários países, sobretudo àqueles considerados em desenvolvimento. O tratado permitiu a exportação de mais de 32 milhões de toneladas de cereais ucranianos ao longo de um ano.

Segundo a Gro Intelligence, empresa de dados agrícolas, a Ucrânia está entre os três maiores exportadores de cevada, milho e óleo de colza em todo o mundo. O país é também o maior exportador de óleo de girassol, responsável por 46% das exportações mundiais.

Com o fim do acordo, a tendência agora é que haja menor disponibilidade de comida e aumento no preço dos alimentos. O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, Adam Hodge, afirmou em um comunicado que a decisão da Rússia vai piorar a insegurança alimentar e prejudicar “milhões de pessoas vulneráveis em todo o mundo”.

O Comitê Internacional de Resgate (IRC) disse, em novembro, que o fim do acordo pode atingir, sobretudo, aqueles que “estão à beira da fome”. Na África Ocidental, por exemplo, aproximadamente 80% dos grãos são exportados da Rússia e da Ucrânia.

É difícil medir qual vai ser a diminuição das exportações de grãos da Ucrânia, mas é certo que o alto custo do seguro dos navios pode ser um problema daqui em diante. Os navios que desejarem atravessar o mar Negro terão de fazer um seguro de milhares de dólares, e as empresas de navegação podem relutar em enviar os navios pela zona de guerra se não houver o aval russo.

Nas últimas semanas, o Kremlin vinha reclamando que interesses russos vinham sendo ignorados e deu indícios de de rompimento do acordo. Moscou se queixa, em particular, de que o setor agrícola, um dos que mais produzem no mundo, é afetado pelas sanções adotadas pelo Ocidente desde o início da guerra.

Mais cedo, a Rússia anunciou a decisão após um ataque de drones navais a uma ponte estratégica que liga o território do país à península anexada da Crimeia.

“O acordo do mar Negro terminou de fato hoje”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, à imprensa.

“Assim que a parte relativa à Rússia [do acordo] for cumprida, a Rússia retornará imediatamente ao acordo de grãos”, acrescentou.