Continua, neste sábado, o julgamento dos quatro réus acusados da morte do médico oftalmologista Marco Antônio Becker – crime ocorrido em dezembro de 2008, na zona Norte da capital. O quinto dia do júri começou com questionamentos da defesa e da promotoria a respeito de uma previsão para a sentença final. O juiz Roberto Schaan Ferreira, que preside a sessão, disse acreditar que sejam necessárias ao menos nove horas para os debates entre defensores e acusação, com direito a réplica e tréplica.
“Estamos todos fora de nossas rotinas e longe dos nossos lares, mas não quero tomar uma decisão desta relevância e submeter aos jurados uma decisão sobre o futuro de quatro pessoas com a cabeça exausta. O que vai nos dar a resposta será o andamento dos trabalhos”, disse o magistrado, que não acredita ver o fim do júri ainda neste sábado.
Quatro homens respondem pelo assassinato: o ex-andrologista Bayard Olle Fischer dos Santos, de 73 anos, e o detento Juraci Oliveira da Silva, o Jura, que foram denunciados como mentores do crime; o ex-assistente de Bayard, Moisés Gugel, de 46 anos, apontado como intermediador, e Michael Noroaldo Garcia Câmara, o Tôxa, de 40, então cunhado de Jura, que conforme a acusação executou a vítima.
A sessão começou com a fala do Ministério Público Federal (MPF), que teve duas horas e meia para expor as provas com que pretende condenar os réus. Segundo o procurador da República Fábio Magrinelli Coimbra, os depoimentos das testemunhas de acusação, integrantes de forças de segurança que investigaram o caso, já se mostraram suficientes. “São todos sérios, de instituições diferentes, como Brigada Militar, Polícia Civil e Polícia Federal. Depois de quatro dias, eu, se fosse os senhores, já estaria convencido da responsabilidade dos réus”, disse o procurador ao jurados – três homens e quatro mulheres. Coimbra demonstrou elementos provando ser uma moto Honda Falcon de cor prata o veículo utilizado pelos executores do crime.
O procurador da República André Casagrande Raupp contou que, a partir de um acidente com a moto, a Polícia descobriu que o veículo pertencia à irmã de Tôxa, que o dirigia, já que a familiar não tinha habilitação para isso. “Ele é integrante de uma facção no Campo da Tuca, chegou a ser preso em um confronto armado com a Polícia e, anos antes, foi condenado, em 2003, por ter matado outra pessoa, desferindo tiros enquanto conduzia uma moto”, relatou o procurador. Raupp acrescentou que a quadrilha cometia crimes com pistolas .40, mesmo armamento utilizado para assassinar Becker. “Temos essa certeza: Tôxa estava na moto na noite do crime e era braço direito do Jura, que era quem dava as ordens”, reforçou.
Raupp destacou, ainda, que a vítima, que havia sido presidente do Conselho Regional de Medicina do RS (Cremers), tinha por característica o ímpeto de cassar colegas por más condutas que feriam o código de ética da profissão. “Bayard estava nesta lista, teve o diploma de médico cassado pelo conselho da entidade”, afirmou o procurador. No ano da morte do oftalmologista, o ex-andrologista, segundo Raupp, se tornou abertamente um oponente de Becker, publicando apedidos em jornais para prejudicar a imagem da vítima, que buscava mais um mandato no Cremers.
Ainda assim, a chapa liderada por Becker venceu. “Ele precisa acabar com a influência da vítima no Conselho e não consegue. Bayard está frustrado. É neste momento que entra pela porta de sua clínica, como paciente, o líder de uma facção que atua no Campo da Tuca. O Jura. É aí que começa o planejamento da morte de Becker”, frisou Raupp. Na sequência, o procurador relata fatos incluindo a participação de Moisés Gugel no crime.
Os procuradores Henrique Hahn Martins de Menezes e Bruno Costa Magalhães continuaram os debates por parte da promotoria, ainda antes do meio-dia. Na sequência, a defesa vai ter mais duas e horas e meia para expor as argumentações, seguidas de réplica e tréplica.