A temporada de nascimento dos cordeiros no Sul está iniciando. Este é o período onde o criador deve estar atento com os partos para que os animais tenham cuidados especiais, principalmente com ítens como a alimentação e a própria tosquia, para garantir uma saudabilidade e comodidade para as ovelhas e os cordeiros.
De acordo com o médico veterinário Gustavo Velloso, inspetor técnico da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco), em algumas regiões do Estado os nascimentos já começaram. “São regiões que trabalham também com Integração Lavoura-Pecuária e possuem pastagens de inverno, e o pessoal faz a cobertura das ovelhas mais cedo e este rebanho está parindo. Geralmente são os ovinos de raças de carne e alguns rebanhos de Merino e Ideal porque a ovelha é muito influenciada pelo fotoperíodo, então também isso incide na época de nascimento dos cordeiros”, salienta.
O especialista reforça que nessas regiões os rebanhos já começaram a parir, pois o clima vinha muito favorável aos nascimentos, apesar de bastante quente, existiam alguns problemas com miíases nos cordeiros. “É um cuidado que se estava tendo muito grande, tanto no umbigo dos cordeiros quanto nas ovelhas após o parto. A disponibilidade forrageira, para quem estava trabalhando com pastagens na região da Fronteira e Campanha, é bastante boa em função do clima pós seca, onde tivemos um outono muito bom com altas temperaturas e dias de bastante sol, então isto favoreceu bastante o desenvolvimento das pastagens”, reforça.
Velloso explica que em outras regiões, como a Fronteira Oeste e a Campanha, muitos produtores planejam o manejo reprodutivo para os nascimentos ocorrerem um pouco mais tarde. “Como a base da nossa comida é pasto, nós temos que nos preocupar de fazer a cobertura das nossas ovelhas para nascerem os cordeiros quando a gente tiver comida. Por isso, eu saliento que no negócio de Integração Lavoura-Pecuária algumas propriedades já têm aveia e azevém. Então, já estão planificadas para isso. Esse pessoal encaneira mais cedo, produz um cordeiro mais cedo, um cordeiro gordo com peso desejado até o final do ano”, observa.
O técnico da Arco explica, ainda, que quem trabalha com base forrageira no campo nativo, o que se aconselha é que os partos iniciem no final de agosto e em setembro, em função do rebrote primaveral. “Nestes campos, principalmente na Fronteira, a partir de agora, em agosto e setembro, já começam a rebrotar. Então, esta ovelha vai produzir melhor, terá mais leite e dará um cordeiro mais pesado, e isso aumenta a taxa de sobrevivência dos cordeiros. Então, essa é a minha dica, procurar encarneirar as ovelhas, tocar para frente e ver quanto teremos de comida na propriedade”, salienta.
Em função disso, de acordo com Velloso, a raça também é um fator importante. Ele frisa que raças de carne também exigem uma disponibilidade maior de alimentação. “São ovelhas maiores, então temos que ter um cuidado com a alimentação e com a sanidade também, apesar de no inverno o problema sanitário não ser tão grave quanto no verão, mas temos que ter cuidado com as esquilas. Hoje nós temos tecnologias de esquilas que favorecem muito a ovelha prenha, como a esquila pré-parto. Atualmente, grande parte dos tosadores já esquilam Tally-hi. Então, perfeitamente dá para tosquiar ovelhas prenhas sem causar dano, apenas benefício. Isso é uma ferramenta que temos disponível, com um custo baixo que favorece bastante para a ovelha ter melhor a condição corporal, tudo vinculado com a alimentação também”, conclui.
Em outras regiões do país não há uma temporada específica de nascimentos, como no Norte e Nordeste, mas alguns cuidados são necessários nos primeiros momentos de vida dos cordeiros. Técnico da Arco que atua na Bahia, Joselito Barbosa, reforça que por estarem no semiárido o cuidado mais específico é o de guardar alimento para o período seco. “Nosso carro chefe aqui chama-se palma. Toda a fazenda de ovinos tem ao lado um plantio de palma. E a palma é uma das ferramentas mais importantes para a alimentação no semiárido, tanto como suplementação normal durante o ano todo como também durante os períodos de estiagem”, explica, acrescentando que a planta, originária do México, começou a ser utilizada no Brasil para a alimentação animal mas que as mesmas foram dizimadas pela cochonilha e atualmente se buscam cepas mais resistentes de palma.
Outra questão salientada pelo técnico é a definição de um sistema de produção de cordeiros, que é chamado de Mais, que se trata de um modo agroclimático inteligente e sustentável, onde os criadores já criam cordeiros em uma metodologia própria que envolve desde a produção de alimentação, a estruturação da propriedade, o manejo de pastagens. “São coisas que não se tem em outros cantos do Brasil este sistema definido. Isso não temos muitos ainda, mas os produtores que já aderiram à tecnologia estão tendo muito sucesso, principalmente em três ítens: controle de verminose, porque se faz um corredor de acesso a todos os pastos, produção da quantidade certa de comida e o uso do Creep Feeding, que é uma ferramenta importante na produção de cordeiro que antigamente era só usado na produção de genética e hoje se utiliza também na carne e com um desenvolvimento muito bom com ausência de perdas e velocidade de crescimento”, finaliza.