Lula reforça a países ricos que solução para crise climática passa por ajuda econômica

Em discurso na cúpula do G7, no Japão, presidente brasileiro pediu uma transição tecnológica mais igualitária

Foto: Ricardo Stuckert/PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) falou sobre as dificuldades políticas em combater as mudanças climáticas durante discurso em uma sessão de trabalho da cúpula do G7, no Japão. Ele mandou um recado para os países mais ricos, dizendo não ser possível “apostar em soluções mágicas” e salientando a dependência do mundo pelo petróleo.

A fala era uma referência ao Protocolo de Kyoto, um acordo ambiental para redução dos gases de efeito estufa firmado em 1997 durante uma convenção sobre mudanças climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU). O presidente do Brasil destacou, no entanto, que o documento, assinado por 84 países, “se tornou referência da falta de ação coletiva”.

No discurso, Lula alertou sobre as nações não estarem atuando “com a rapidez necessária para conter o aumento da temperatura global”. “Mais de 3 bilhões de pessoas já são diretamente atingidas pela mudança do clima, em especial em países de renda média e baixa”, alertou, dizendo que o número vai seguir aumentado caso a situação atual não se altere.

Lula afirmou que a tecnologia pode ajudar a humanidade a combater as mudanças climáticas, mas não vai ser a solução para a crise. “O principal problema é político”, disse. “É por isso que insistimos tanto que os países ricos cumpram a promessa de alocarem 100 bilhões de dólares ao ano à ação climática. Outros esforços serão bem-vindos, mas não substituem o que foi acordado na COP de Copenhague [Dinamarca, em 2009]”, lembrou.

Para o chefe do Executivo, é preciso valorizar os acordos e as convenções entre as nações, levar em conta quais países mais emitiram gases do efeito estufa e pensar em uma “transição ecológica e justa, que inclui industrialização e infraestruturas verdes, de forma a gerar empregos dignos e combater a pobreza, a fome e a desigualdade”.

Lula ainda afirmou que, além da ajuda de países ricos para que o combate às mudanças climáticas seja mais igualitário, é necessário a atuação de lideranças nesse sentido. Ele disse que, até o fim do mandato, o país vai estar exportando sustentabilidade e também enfatizou que a proteção à Floresta Amazônica integra esse pacote.

“Vamos cumprir nossos compromissos de zerar o desmatamento até 2030 e alcançar as metas voluntariamente assumidas no Acordo de Paris”, garantiu

Desafio econômico
Em outra sessão da cúpula do G7, Lula lembrou a crise financeira de 2008, que provocou “retrocessos importantes, como o enfraquecimento do sistema multilateral de comércio”. “O protecionismo dos países ricos ganhou força e a Organização Mundial do Comércio permanece paralisada”, afirmou o presidente.

“Os desafios se acumularam e se agravaram. A cada ameaça que deixamos de enfrentar, geramos novas urgências. O mundo hoje vive a sobreposição de múltiplas crises: pandemia da Covid-19, mudança do clima, tensões geopolíticas, uma guerra no coração da Europa, pressões sobre a segurança alimentar e energética e ameaças à democracia”, ressaltou.

Lula sugeriu, como solução para os problemas, uma “mudança de mentalidade” no sistema financeiro global, que o coloque “a serviço da produção, do trabalho e do emprego”. “Só teremos um crescimento sustentável de verdade direcionando esforços e recursos em prol da economia real”, disse.

O presidente também citou a crise econômica na Argentina. O país sul-americano vem insistindo com outras nações, inclusive o Brasil, em busca de um aporte financeiro que ajude a mitigar os efeitos da crise e a aumentar as reservas de dólares. Ele também pediu uma representatividade maior dos países africanos no G20, que reúne as 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia.

“O endividamento externo de muitos países, que vitimou o Brasil no passado e hoje assola a Argentina, é causa de desigualdade gritante e crescente, e requer do Fundo Monetário Internacional um tratamento que considere as consequências sociais das políticas de ajuste”, defendeu.

O presidente ainda reiterou que a busca por uma solução passa por um trabalho conjunto que contemple um número grande de países. Segundo ele, não há sentido em “conclamar os países emergentes a contribuir para resolver as ‘crises múltiplas’ que o mundo enfrenta sem que suas legítimas preocupações sejam atendidas, e sem que estejam adequadamente representados nos principais órgãos de governança global”.