Teve início na manhã desta quarta-feira o segundo dia do júri dos skinheads em Porto Alegre. No banco dos réus estão três homens acusados de praticar um ataque contra judeus, no bairro Cidade Baixa, em 2005. O primeiro dia de júri encerrou às 21h12. O julgamento segue hoje com a oitiva de outras nove testemunhas.
Estão sendo julgados os réus Valmir Dias da Silva Machado Júnior, Israel Andriotti da Silva e Leandro Maurício Patino Braun, acusados de três tentativas de homicídio qualificado (motivo torpe, meio cruel, recurso que dificultou a defesa dos ofendidos), associação criminosa e crime de discriminação ou preconceito racial.
O julgamento acontece no plenário de grandes júris da Capital, localizado no 2º andar do Foro Central I. A sessão é presidida pela Juíza de Direito Lourdes Helena Pacheco da Silva, titular do 2º Juizado da 2ª Vara do Júri da Comarca de Porto Alegre. A expectativa é que o julgamento seja concluído nesta quinta-feira.
Relembre o caso
Segundo a acusação, na madrugada do dia 08 de maio de 2005, Rodrigo Fontella Matheus, Edson Nieves Santanna Júnior e Alan Floyd Gipsztejn caminhavam pela esquina das ruas Lima e Silva e República, bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, quando foram atacados por um grupo de skinheads, de ideologia neonazista.
As vítimas usavam quipás (pequeno chapéu em forma de circunferência, usado pelos judeus). O grupo de agressores estava dentro do bar Pinguim quando avistaram os rapazes em frente ao estabelecimento. Rodrigo Fontella Matheus foi golpeado com arma branca, socos e pontapés. O crime só não se consumou pois a vítima contou com a intervenção de terceiros que estavam no local, bem como com pronto atendimento médico.
Edson Nieves Santanna Júnior também foi atacado pelo grupo – mediante golpes de arma branca, mas conseguiu escapar e buscar abrigo dentro do bar. Por último, Alan Floyd Gipsztejn foi atacado, mas também conseguiu fugir para o interior de um estabelecimento.
1º dia
Logo no início do júri foi formado o Conselho de Sentença, integrado por três mulheres e quatro homens. A partir disso, houve a reprodução de mídias, por parte da defesa de um dos acusados. À tarde, o júri retornou com o depoimento das vítimas. Já no período da noite, foram ouvidas as primeiras testemunhas: ambos eram estudantes de medicina na época dos fatos, que estavam no local onde ocorreu o crime.
O primeiro médico prestou depoimento por videoconferência e destacou a violência testemunhada. “Não chamaria de agressão. Parecia uma cena de filme de terror. Tinha um grupo de pessoas uniformizadas, atacando um cara (vítima Rodrigo), chutando muito. Outro grupo fazia barreira, ameaçando quem tentasse ajudar. Xingavam a pessoa agredida. Eles não paravam”, disse o médico, testemunha de acusação.
Ele destacou que, na época dos fatos, conseguiu identificar com facilidade alguns dos agressores que não utilizavam máscaras. “Demorou para cair a ficha que era um crime de ódio. Tentamos chegar perto para ajudar e fomos ameaçados”, disse.
O outro médico, segunda vítima a depor, falou de forma presencial. Disse que ao ver uma pessoa ligando para o Samu, pediu para dar continuidade ao contato, tendo em vista os conhecimentos médicos. “Me dei conta de que as pessoas que agrediam estavam com similaridades, sapatos, roupa, calças camufladas e cabeças raspadas. Ao chão, ao lado da pessoa agredida, tinha um quipá e um caderno com escritos em hebraico. Foi quando percebemos que era um crime racial”.