Leandro Boldrini é condenado a 31 anos e oito meses de prisão pela morte do filho, Bernardo

Sentença difere em dois anos da anterior; júri absolveu o médico do crime de ocultação de cadáver

Foto: Marcio Daudt / TJRS / Divulgação

Em um segundo julgamento, que durou quatro dias, o médico Leandro Boldrini recebeu pena de 31 anos e oito meses de reclusão pela morte do filho, Bernardo, então com 11 anos, em 2014, no Noroeste gaúcho. A sentença difere em dois anos da que havia sido estabelecida em 2019, de 33 anos e oito meses, anulada em segunda instância, em dezembro de 2021. Dessa vez, o júri popular condenou Boldrini pelos crimes de homicídio quadruplamente qualificado (motivo torpe, motivo fútil, emprego de veneno e dissimulação) e falsidade ideológica, mas absolveu o médico do delito de ocultação de cadáver.

A sessão, presidida pela juíza juíza Sucilene Englear Audino, não contou com o interrogatório do réu, ao contrário do previsto. Alegando problemas de saúde, Boldrini acabou sendo dispensado de falar. Com isso, o processo avançou direto para a etapa final, dos debates orais, com uma hora e meia para a acusação, a cargo do Ministério Público estadual (MP) o mesmo tempo para os advogados do médico, uma hora de réplica para o MP e uma hora de tréplica para a defesa.

Perto das 18h, os jurados sinalizaram estar prontos para decidir e passaram a uma sala privada. A maioria simples de votos definiu a absolvição ou culpa em cada quesito do questionário que embasou a sentença.

Leandro Boldrini era acusado de ser o mentor intelectual do plano que levou à morte do filho, em abril de 2014. O MP também apontou que partiu do médico a receita do medicamento Midazolan, usado para dopar a criança.

Em 2019, também foram condenados, pelo mesmo crime, a madrasta do menino, Graciele Ugulini (34 anos e 7 meses de reclusão), a amiga dela, Edelvania Wirganovicz (22 anos e 10 meses) e o irmão dessa última, Evandro Wirganovicz (9 anos e 6 meses), que ganhou liberdade condicional em 25 de março de 2019.

Em dezembro de 2021, a 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul anulou o julgamento de Boldrini considerando que houve quebra da paridade de armas durante o interrogatório do médico. No entendimento do colegiado, os promotores de Justiça não se limitaram a formular perguntas ao réu, mas fizeram argumentações sem que os advogados de defesa tenham tido a possibilidade de contrapor. O médico seguiu cumprindo a pena até o segundo julgamento, que teve início na segunda-feira passada.

Emoção e protestos marcaram júri

No primeiro dia de sessão, a promotoria apresentou áudios e vídeos mostrando a relação conturbada entre pai e filho. Em uma das gravações caseiras, Bernardo aparecia gritando “socorro” em repetidas ocasiões. Em certo momento, o réu pediu para sair da sala para voltar em seguida. Em outra ocasião, o médico chegou a esboçar um choro contido.

Na terça, Boldrini passou mal antes do início dos trabalhos, sendo encaminhado de volta à Penitenciária Modulada de Ijuí após o meio-dia.

Quarta a ser ouvida nesse dia, uma vizinha da família, que Bernardo tinha o costume de chamar de “Tia Ju”, deu um depoimento repleto de emoção. A comerciante Juçara Petry contou que a criança passou na casa dela “o último aniversário, a última Páscoa e o último Dia dos Pais”.

Nessa quarta, quando Boldrini esteve novamente ausente, o testemunho da psicóloga Ariane Schmitt trouxe novas revelações sobre como era o convívio do menino com o pai. “Órfão é a palavra mais feia do dicionário. Bernardo era órfão, também, de pai vivo”, lamentou.

Relembre o caso

Bernardo Boldrini tinha 11 anos quando desapareceu, em Três Passos, em 4 de abril de 2014. Quatro anosa antes, a mãe dele, Odilaine Uglione, cometeu suicídio. De acordo com a acusação, o menino passou a ser considerado um estorvo para o novo núcleo familiar, já que Leandro e Graciele tiveram um filho mais novo.

O casal ofereceu dinheiro a Edelvânia ajudar a executar o crime. Sem saber do plano, Bernardo aceitou viajar a Frederico Westphalen, com a madrasta, para ser submetido a uma benzedeira. O menino recebeu uma superdosagem de Midazolan, de uso controlado, e teve o corpo enterrado em uma cova vertical, em uma propriedade às margens do rio Mico.

A Polícia encontrou o cadáver depois de dez dias de buscas, quando Edelvânia confessou participação no assassinato. No mesmo dia, o pai e a madrasta foram presos, suspeitos, respectivamente, de serem o mentor intelectual e a executora do crime, com a ajuda do casal de irmãos.

Leandro Boldrini segue preso, preventivamente, desde 14 de abril de 2014. Graciele Ugulini, também presa, deve progredir para o regime semiaberto em 9 de julho de 2026. Edelvania Wirganovicz cumpre pena em regime semiaberto. Evandro Wirganovicz, também em regime semiaberto, recebeu liberdade condicional.