Prefeito de Bento Gonçalves afirma ser preciso defender cadeia da uva e do vinho 

"Não podemos generalizar", destaca Diogo Siqueira sobre caso envolvendo trabalhadores resgatados em situação semelhante à escravidão

Prefeito de Bento Gonçalves, Diogo Siqueira | Foto: Prefeitura de Bento Gonçalves/Divulgação

O prefeito de Bento Gonçalves, Diogo Siqueira, classificou o momento como “muito difícil” por conta do caso envolvendo 207 trabalhadores resgatados em situação semelhante à escravidão, que atuavam como safristas em uma empresa terceirizada que prestava serviços a três vinícolas gaúchas.

Durante entrevista exclusiva ao programa Agora, da Rádio Guaíba, o chefe do Executivo municipal alegou que o episódio “não deve ser generalizado”. Conforme Siqueira, o momento é de defender a Serra gaúcha.

“Nós precisamos que o governo do Estado entenda que a Serra gaúcha faz parte do RS. Nós precisamos que o governo do Estado esteja junto da Serra gaúcha e que defenda os nossos agricultores, a história das nossas vinícolas, que é isso que nós já estamos fazendo. Eu sou prefeito de Bento Gonçalves e um radical defensor do vinho. Eu entendo como funciona a produção, como é feito o trabalho, que é extremamente difícil. É uma competição desumana que acontece com nosso vinho nacional. Se nós pegarmos a taxação de um vinho chileno, argentino, comprado na garrafa, o preço chega mais barato do que a de um vinho comprado em Bento Gonçalves. Isso é inadmissível que aconteça. Não temos nada favorável na venda do vinho no Brasil”.

O prefeito defende que o caso, que precisa ser combatido, é complexo e isolado. “Não pode colocar todas as etapas desta cadeira produtiva no mesmo lugar. Aqui na Serra são 20 mil famílias que vivem exclusivamente da produção rural, na produção de uva. Eles precisam de muita gente na colheita, na vindima, onde são apenas três, quatro dias em que essa produção tem de ser colhida em toda propriedade. Então, não podemos generalizar. Eu entendo que existe algo por trás, tem envolvimento comercial muito forte por trás e concorrência de exportação e importação… existem também questões políticas envolvidas, isso nós também não podemos negar. O que a gente não pode é generalizar”.

Sobre os reflexos deste episódio na cadeia produtiva, Diogo Siqueira detalhou ser um sentimento de angústia “muito grande”, principalmente por parte das famílias que se dedicam exclusivamente a vitivinicultura.

“Nós vemos que existe um linchamento virtual destas famílias, colocando todos eles na pior das classificações. É uma situação angustiante. Eu vi pessoas chorando com o receio do que aconteceu e do que pode acontecer. É uma preocupação com o futuro destas propriedades, com a venda do vinho ao longo prazo. Então, é realmente um momento muito difícil”.

Desdobramentos

Uma nova audiência entre o Ministério Público do Trabalho e as três vinícolas que contrataram os trabalhadores será realizada HOJE. Este será o terceiro encontro, na tentativa de definir novas medidas e o pagamento de indenização.

A expectativa é que o órgão consiga chegar a um acordo com as empresas para assinatura do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). Para isso, as empresas adotariam ações e pagariam um valor estipulado para evitar um processo judicial.

Ontem pela manhã, o Procurador-geral do Trabalho, José de Lima Ramos Pereira, cumpriu agenda em Porto Alegre. Na ocasião, ele participou de uma reunião com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, para alinhavar medidas de combate e de investigação sobre o caso.

Na oportunidade, o representante do MPT em território nacional também entregou ao governador gaúcho um termo de cooperação, cujo objetivo é dar rapidez ao processo e ampliar ações similares.