Eleições 2022: Leite prepara anúncio sobre disputa nacional

Ante estratégia de protelamento adotada pelo tucano, aliados fazem as próprias escolhas, e PT emite nota com posição sobre eleição estadual

Foto: Alina Souza/CP

É aguardado para esta sexta-feira o anúncio do candidato do PSDB ao governo gaúcho, Eduardo Leite, sobre como vai se colocar em relação à disputa nacional no segundo turno das eleições. No início da noite desta quinta, o ex-governador confirmou que concede entrevista coletiva a partir das 9h, no Comitê Central da campanha.

A tese que prevalece é a de que é impossível abrir voto ou palanque para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e que a chapa vai tentar uma estratégia de busca de votos de eleitores à esquerda com um discurso genérico de defesa da democracia.

Até o fim desta quinta, Leite não havia feito nenhum movimento em direção ao PT gaúcho, que desistiu de uma possibilidade de acordo. “Ele perdeu o ‘timing’. Também não é verdade que o PT nacional está atrás dele. Isto não existe”, resumiu um dirigente com trânsito nacional.

No fim da tarde, o PT estadual lançou uma nota na qual estabelece que a posição da sigla em relação ao segundo turno das eleições no Rio Grande do Sul “está balizada pelo comprometimento com a democracia e a campanha da chapa Lula/Alckmin.”

Foi mais uma definição em uma semana tensa, que começou com tucanos e emedebistas externando a dificuldade em entender o resultado do primeiro turno. Com o passar dos dias, a estratégia de protelamento adotada pela chapa encabeçada pelo PSDB desde o domingo em relação à disputa nacional também se tornou insustentável, por uma série de fatores. Um dos principais envolveu a pressão interna, que veio acompanhada do risco de que perda de protagonismo do ex-governador na condução das articulações. Isso porque, desde antes de as direções nacionais do PSDB, MDB e União Brasil decidirem liberar os diretórios regionais para apoiarem Lula (PT) ou Bolsonaro (PL), lideranças locais deram início a um movimento de anunciar as opções, a começar pelo presidente licenciado do PSDB gaúcho, o deputado federal reeleito Lucas Redecker. A ele seguiram-se diversos emedebistas, como o federal mais votado do partido no RS, Alceu Moreira, e o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo. Na chapa de Leite, o deputado estadual Gabriel Souza, do MDB, ocupa a vaga de vice.

Os três – Redecker, Moreira e Melo – abriram voto em Bolsonaro. “O MDB gaúcho estará massacradamente com Bolsonaro. Não tem nenhuma possibilidade de aproximação com o PT aqui”, resume Moreira.

O problema é que Leite precisa dos votos do PT. Depois de superar o então candidato petista ao governo, Edegar Pretto, por uma diferença ínfima (2.441 votos), o tucano chegou ao segundo turno com 679.211 votos a menos do que o candidato do PL, Onyx Lorenzoni.

“Eduardo se encontra no clássico ‘dilema do prisioneiro’. Por isso, adotou o protelamento, aguardando para onde vai o debate nacional. Se for para o lado mais programático, ele é favorecido, sua estratégia de focar em propostas para o Estado ganha fôlego. Se for para o de valores morais, é prejudicado, e praticamente obrigado a entrar na polarização”, explica a cientista social e política Elis Radmann, diretora do Instituto Pesquisas de Opinião (Ipo).

A pressão regional sobre a chapa PSDB/MDB veio acompanhada do ritmo frenético da disputa nacional, na qual tanto Lula quanto Bolsonaro correram para anunciar apoios, em uma movimentação característica dos segundos turnos das eleições.

Na corrida, a hipótese de o PT e o PSDB conseguirem um acordo para os tucanos apoiarem de alguma forma a candidatura de Fernando Haddad em São Paulo fazendo, em contrapartida, o PT gaúcho abrir apoio oficial ao PSDB no RS (embora sem participações em palanques), podia dar a Leite a justificativa de ‘acordo nacional’. Mas as negociações acabaram sendo atropeladas pelo governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB). Após ficar em terceiro na disputa, Garcia abriu o voto para o candidato do PL ao governo paulista, Tarcísio de Freitas (PL), gerando um racha na legenda. Na outra ponta, lideranças históricas do partido, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o padrinho político de Leite, o senador Tasso Jereissati, declararam voto em Lula.

Além da confusão nacional, no cenário local tucanos e emedebistas tiveram que absorver a escolha do PP. Por unanimidade, o partido optou por Onyx, jogando por terra a possibilidade aventada por Leite de angariar lideranças da legenda, como prefeitos, por exemplo.

*Com informações da repórter Flávia Bemfica