Caso Gabriel: jovem morreu por hemorragia e foi deixado sem vida em açude, diz perícia

Policiais presos em decorrência do caso devem ser expulsos da Brigada Militar

Coletiva ocorreu nesta segunda-feira | Foto: Ricardo Giusti / CP

O Instituto-Geral de Perícias (IGP) confirmou, nesta segunda-feira (29), que Gabriel Marques Cavalheiro já estava morto quando foi deixado por policiais militares em um açude de São Gabriel, cidade localizada há 328km de Porto Alegre. O laudo de necropsia, feito após a descoberta do corpo, há pouco mais de uma semana, revelou que o jovem de 18 anos foi vítima de uma hemorragia.

Ainda conforme o IGP, o sangramento foi causado por uma lesão na cervical, abaixo do pescoço. Não foi possível determinar o objeto que causou o ferimento e, tampouco, quantas vezes Gabriel foi golpeado. “A investigação é quem vai trazer qual objeto foi esse. Ele também tinha um pequeno hematoma na cabeça, mas não foi a causadora da morte”, revela a diretora-geral do órgão, Heloísa Kuser.

As investigações do caso serão concluídas ainda nesta semana, tanto na esfera civil quanto na militar. A primeira apura apenas o crime contra a vida – interpretado até aqui como um homicídio doloso, que é quando há a intenção de matar. Já a segunda trata de infrações ao código de conduta da Brigada Militar, como falsidade ideológica, ocultação de cadáver e transgressão de disciplina.

“Todo policial, quando ingressa nas fileiras das polícias, jura defender a sociedade com a própria vida. E estes agentes fizeram o contrário. Descumpriram os manuais e, por isso, são alvos desta investigação. Eles serão submetidos às mais duras penas nas esferas militar e civil”, garante o secretário de Segurança Pública do Rio Grande do Sul, coronel Vanius Santarosa.

Algumas perguntas sobre o caso seguem sem respostas. A principal delas é como, e em qual momento, Gabriel foi morto. Os três agentes investigados negam envolvimento na morte e, por isso, não revelaram detalhes sobre a noite do crime. Também não se sabe se o corpo do jovem foi envolto de propósito na vegetação do açude, para evitar que submergisse, ou se isso aconteceu por motivos naturais.

Uma possibilidade que foi minimizada, entretanto, é a de que a mulher que chamou a polícia na noite em que a vítima foi morta tenha relação com os brigadianos. “O que se tem é que a abordagem foi inadequada, para dizer o mínimo. Não descartamos nenhuma hipótese. Mas, até agora, não há nada nesse sentido”, afirma o chefe da Polícia Civil, delegado Fábio Motta Lopes.

Histórico

O comandante da Brigada Militar admitiu que dois dos três policiais envolvidos no caso já tinham respondido por abuso de autoridade em um inquérito militar. No entanto, ainda conforme o coronel Cláudio dos Santos Feoli, nem mesmo o MP encontrou provas que indicassem a necessidade de afastamento dos agentes. O foco da corporação, agora, é em uma mudança generalizada.

“Há mais de quatro meses nós estamos buscando uma nova cultura organizacional. Só que isso precisa se continuidade. Por isso, vamos fazer um congresso com todos os gestores, perpassando gerações. Desde o camarada que recém se formou, até os atuais comandantes. Esta mudança é um compromisso. Buscamos excelência na prestação dos nossos serviços”, ressalta Feoli.

Relembre o caso

Gabriel Marques Cavalheiro desapareceu, na noite de 12 de agosto, após ser abordado por uma viatura da Brigada Militar na rua Sete de Setembro, em São Gabriel. A guarnição foi acionada por uma moradora, que teria se assustado com a movimentação nas proximidades de sua casa. Um vídeo amador revelou que a vítima dava sinais de embriaguez, e foi algemada pelos agentes.

A partir do sinal de GPS da viatura, descobriu-se que o veículo foi em direção a um local afastado, onde parou por menos de dois minutos. Foi em um açude, próximo dali, que o corpo de Gabriel foi encontrado uma semana depois. Os brigadianos negam envolvimento na morte do jovem, e estão presos desde que o cadáver foi descoberto. O caso gerou comoção e protestos na cidade.