Morre o poeta gaúcho Luiz de Miranda

Autor uruguaianense de 77 anos permanecia internado no Hospital São Lucas da PUCRS

Foto: Valmoci Vasconcelos / Divulgação / CP Memória

O escritor Luiz Carlos Goulart de Miranda morreu, na tarde desta sexta-feira, no Hospital São Lucas da PUCRS, onde permanecia internado na UTI. O escritor e amigo José Eduardo Degrazia confirmou o óbito. Ainda não há informações sobre a causa da morte e como serão as cerimônias fúnebres.

O intelectual enfrentava problemas de saúde. Natural de Uruguaiana, Miranda nasceu em 6 de abril de 1945. Foram mais de 45 anos de carreira literária, com 33 livros publicados, entre os quais “Memorial” (1973), “Solidão Provisória” (1978), “Amor de Amar” (1986). Ele integrava a Academia Rio-Grandense de Letras desde 1987.

O poeta, candidato cinco vezes consecutivas ao Nobel de Literatura, comemorou os 70 anos, em 2015, no Espaço Delfos, da PUCRS, com o lançamento do livro de número 40: “Rumos do Fim do Mundo”. Em 2017, ele completou 50 Anos de carreira literária. Até este ano, a obra de Miranda somava 4.318 páginas publicadas.

Luiz de Miranda nasceu, em Uruguaiana, na rua Aquidaban, hoje avenida Flores da Cunha, em um pequeno bairro, ao lado do rio Uruguai. Desde criança, entrou em contato com a literatura através do espanhol, porque dominou a língua. Quando tinha 17 anos, comprou alguns livros na livraria Sarmiento, em Passo de Los Libres, Argentina. Conheceu, então, Pablo Neruda e Vicente Aleixandre, que mais tarde receberam o Prêmio Nobel de Literatura. Também comprou a obra completa de Cruz e Sousa, o primeiro livro de poesia brasileira que adquiriu. Foi criado pela avó, Francisca Goulart de Miranda, a mãe, também Francisca, e o padrasto, Elpídio Alvino Nunes da Rosa, todos analfabetos.

Uma vez, falando com José Saramago, o único Prêmio Nobel português de literatura, o escritor português disse ter algo em comum: os pais dele também não sabiam ler. Feliciano, o tio mais velho, levou a família para Uruguaiana, onde nasceu Luiz de Miranda. Perseverando Goulart de Miranda, padrinho dele, também ajudou a criar o poeta. A mãe Francisca conheceu o futuro pai que trabalhava na ponte Uruguaiana. Eles não se casaram, e o homem voltou para Cambará do Sul. Quando tinha nove anos, a família foi para um rancho de férias. Era 5 de fevereiro de 1955. O caminhão onde eles foram virou na primeira ponte da saída da cidade, e o irmão, José Newton de Miranda, três anos mais novo que ele, morreu.

Em agosto de 1966, Luiz de Miranda mudou-se para São Paulo, antes de passar pela China, onde realizou um curso de guerrilha. Na capital paulista, cursou teatro com Paulo Mendonça, e tinha costume de recitar poesia com Paulo Gracindo, ambos em São Paulo. Em 1967, conheceu o poeta e crítico literário Cassiano Ricardo. Ele leu os primeiros dois livros de Luiz de Miranda, “Versos ao Longe” e “Poemas em Preto e Branco”, e os definiu como “não tão bons”. Ele indicou o poeta Guilherme de Almeida para orientá-lo a escrever. Luiz de Miranda, sempre rebelde, não aceitou a indicação, mas pediu conselho a Cassiano Ricardo que lhe indicou 25 livros sobre poesia. Depois de ler, o poeta rasgou os dois primeiros livros e começou a partir do zero.

Em dezembro de 2009, Luiz de Miranda entregou material de entrevistas e poemas publicados pelos jornais, além de outros documentos, livros e cartas para o Espaço Delfos – Espaço e Memória Cultural da PUCRS.