Casacos, cachecóis, toucas, mãos nos bolsos e cabelos esvoaçantes pela força do vento. O Centro de Porto Alegre, desde o início da manhã desta segunda, era um exemplo de como as pessoas tentaram se proteger das rajadas que beiraram os 35 km/h em cidades da região Metropolitana. Segundo especialistas, são sinais que precedem o ciclone que vai atingir o Rio Grande do Sul e Santa Catarina entre terça e quarta. A MetSul Meteorologia alerta para um fenômeno climático que deve ter a força de um furacão.
Rajadas de vento, consideradas extremamente fortes e mesmo destrutivas, poderão ter velocidade acima de 100 km/h em diversas localidades e superiores a 120 km/h em parte do Leste gaúcho. Nos dois estados, a região litorânea deve ser a mais afetada. Conforme a MetSul, o episódio que começa essa semana é potencialmente um dos mais graves da história recente do Rio Grande do Sul.
“É uma situação atípica, anômala e bizarra, até para nós que trabalhamos há décadas com previsão do tempo”, pontuou a meteorologista Estael Sias. Segundo ela, trata-se de um ciclone que ocorre em um período de frio, mas com características tropicais na estrutura. “O ciclone vem com uma pressão atmosférica muito baixa. Há um consenso de que o fenômeno é híbrido, subtropical”, completa Estael.
Ao menos 40 municípios do Rio Grande do Sul compõem a potencial rota do ciclone, segundo boletim meteorológico da MetSul. Apesar de ainda possuir trajetória imprecisa, o que é comum em situações de fenômenos climatológicos extremos, o cenário já é de alerta máximo.
Segundo projeções divulgadas pela MetSul, o ciclone deve ingressar pelo Sul gaúcho, intensificando a velocidade do vento ao longo da tarde e noite de terça, primeiramente pela região extremo Sul e depois para áreas mais ao Sul da Lagoa dos Patos.
Na sequência, durante a noite, o campo de vento extremamente forte vai se mover pela Lagoa dos Patos e pelo litoral até áreas mais ao Sul do litoral Norte. Amanhã, o vento sopra forte na Serra e atinge com mais força áreas entre o Norte da Lagoa dos Patos e o litoral Norte. Por isso, em Porto Alegre, o pior do vento deve ocorrer ainda no final de terça e na madrugada de quarta.
“Sem precedentes na história recente em meses de frio”, alerta MetSul
Em Porto Alegre, a estimativa da MetSul é de rajadas, em média, de 80 km/h a 100 km/h, e índices superiores em pontos mais ao Sul da cidade e próximos da Lagoa dos Patos acima de 120 km/h. Cidades mais ao Sul da área metropolitana como Guaíba, Eldorado do Sul e Viamão também podem ser castigadas duramente. O Vale do Sinos, pelo relevo, costuma ter vento menos intenso em ciclones, mas pode registrar rajadas muito fortes.
O litoral Norte gaúcho deve sofrer com vento forte a intenso com rajadas perto ou acima de 100 km/h e potencialmente mais intensas em praias e municípios mais ao Sul da região como Palmares, Quintão, Balneário Pinhal, Tramandaí, Cidreira, Imbé, Xangri-lá e Capão da Canoa. Mais ao Norte, embora se preveja vento muito forte a intenso em alguns momentos, as rajadas devem ser menos violentas que em praias mais ao Sul da região.
Em Santa Catarina, o vento pode ser muito forte também no Sul do Estado com as rajadas mais intensas ocorrendo no litoral Sul, onde em alguns pontos devem ficar próximas ou acima de 100 km/h, como nas áreas de Passo de Torres, Balneário Rincão e Laguna. O vento nas montanhas do Planalto Sul Catarinense, como no Morro da Igreja, e em elevações na borda da Serra nos Aparados pode atingir velocidades altíssimas.
Segundo a MetSul, desde o furacão Catarina, de março de 2004, não se observava os modelos indicarem pressão tão extraordinariamente baixa junto à costa do RS, “sem precedentes na história recente de um ciclone tão profundo em meses frios do ano” como este.