Ampolas de dipirona e o antibiótico amicacina são alguns dos medicamentos que vêm apresentando defasagem nos hospitais de Porto Alegre, além de soro fisiológico, conforme levantamento do Sindicato dos Hospitais e Clínicas de Porto Alegre (Sindihospa). O Conselho Regional de Farmácia do Rio Grande do Sul (CRF/RS) também vem recebendo informações e relatos de farmacêuticos que atuam em hospitais e farmácias públicas do Estado sobre falta ou dificuldade na aquisição de alguns medicamentos. Além da dipirona, o ibuprofeno em gotas, vasodilatadores, prometazina injetável e furosemida também são apontados como alguns dos exemplos.
Para os representantes dos hospitais, devido à pandemia e, mais recentemente, a guerra na Ucrânia, há falta de insumos, embalagens e até mesmo de contêineres para o transporte dos medicamentos. “Isso tem, sim, interferido de alguma maneira no abastecimento para o país. As instituições fazem o controle diário dos estoques e têm buscado alternativas para ter acesso às medicações e garantir o atendimento aos pacientes”, firma o coordenador do Comitê de Relacionamento com Fornecedores do Sindihospa, Rafael Martins Lopes. A presidente do CRF/RS, Letícia Raupp, acrescenta que, além desses fatores, a falta de uma política que mantenha laboratórios públicos em funcionamento e produzindo os medicamentos estratégicos para o país contribui para a falta de remédios básicos.
Lopes não entende que grandes hospitais tenham sido fortemente impactados pelo reajuste anual dos medicamentos, no começo de abril, embora acredite que fornecedores possam ter armazenado produtos para venda após o reajuste, colaborando para desabastecimento de remédio em algumas áreas. O mercado de medicamentos é regulado, cabendo a Anvisa definir o preço máximo aplicado aos produtos vendidos. Lopes explica que, em cenários tranquilos, com muita oferta, o desconto aplicado sobre esses produtos pela indústria farmacêutica aumenta. “Como estamos passando por situações temporárias de desabastecimento, com pouca oferta de produtos, alguns fornecedores têm diminuído os descontos, afetando o preço final pago pelos compradores”, analisa o representante do sindicato dos hospitais.
Ações para reduzir problemas
O Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HPCA) tem enfrentado dificuldade na aquisição de alguns medicamentos em função do desabastecimento e descontinuidade de comercialização. Por meio de nota, o hospital afirmou que vem realizando uma série de ações para contornar essa situação. “Nos últimos anos, também por consequência da pandemia, observamos que essas dificuldades têm sido maiores – com alguns medicamentos importantes estando em falta no mercado (algumas vezes no mundo inteiro)”, diz o texto.
Como exemplo, o hospital cita a dipirona endovenosa, alguns antimicrobianos e a imunoglobulina humana. Em relação à alta de preços, o HCPA observa que “diversos itens tiveram o preço majorado, porém ainda estamos conseguindo manter a compra e o estoque desses itens”. A imuniglobulina está em falta nos hospitais do Grupo Hospitalar Conceição (GHC). “A equipe da Gerência de Materiais do Grupo Hospitalar Conceição está buscando solucionar a falta da imunoglobulina”, informa o diretor-presidente do GHC, Cláudio Oliveira.
Farmácia pública
Nas farmácias públicas, em Porto Alegre, dos 161 medicamentos da Relação Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME), disponíveis nas 11 unidades distritais espalhadas pela cidade, três medicamentos estão sem estoque, conforme a Secretaria Municipal de Saúde (SES). O fenoterol, utilizado no tratamento de asma brônquica, pneumonia, bronquite e tuberculose, e a gentamicina, usado em colírio para inflamações nos olhos, estão em falta por não haver registro de preço ativo por problemas na produção dos medicamentos. Já a finasterida, usada no tratamento de câncer de próstata, apresenta atraso na entrega pelo fornecedor.
Segundo a SMS, o aumento de preços impacta no tempo de reabastecimento de itens devido as solicitações de realinhamento dos valores de fornecedores e de cancelamento de registros de preços. “Apesar dessas situações todos os esforços estão sendo realizado para que não gerem o desabastecimento nos medicamentos disponíveis a população nas Farmácias Distritais e unidades de saúde”, afirma a pasta.
Dados do sistema DIS-Procempa mostram que a procura por medicamentos na rede pública municipal apresenta aumento de 20,83% entre 2018 e 2021. De 1,7 milhão, o número de pessoas que recorreu ao serviço saltou para 2,1 milhões no ano passado.