Bolsonaro: compra de Viagra pelas Forças Armadas “não é nada”

Maior parte das aquisições é direcionada à Marinha

Foto: Clauber Cleber Caetano / PR

Em encontro com pastores fora da agenda oficial, o presidente Jair Bolsonaro afirmou, nesta quarta-feira, que a compra, pelas Forças Armadas, de 35.320 unidades de citrato de sildenafila, conhecido como Viagra, “não é nada”. Para o presidente, a instituição “está apanhando muito” por ter comprado um produto químico que serve para combater a hipertensão arterial pulmonar.

“As Forças Armadas estão apanhando muito de ontem para hoje por terem comprado Viagra para os hospitais militares. Temos que reportar que há 15, 20 anos atrás estava se pesquisando algo para combater a hipertensão arterial pulmonar, que matava muito, e foi descoberto um remédio para isso. Paralelamente, esse mesmo remédio serviu para doenças reumatológicas (sic) e, com efeito colateral, algo que combatia também a impotência sexual. Depois, ficou conhecido como Viagra”, disse.

Na sequência, o presidente destacou que o remédio é destinado, em maioria, para servidores pensionistas e inativos das Forças Armadas. “Com todo respeito, não é nada a quantidade (de remédio adquirido) para o efetivo das três Forças, obviamente, muito mais usado pelos inativos e pensionistas. A gente apanha todo dia de uma imprensa que tem muita má-fé e é ignorante”, completou.

As declarações foram dadas por Bolsonaro durante um encontro, realizado no Palácio do Alvorada, em Brasília, com lideranças da maior conferência de pastores do Brasil, a Convenção Geral das Assembleias de Deus. Parlamentares e ministros também participaram do café da manhã no Palácio da Alvorada, residência oficial do chefe do Executivo nacional. O encontro não aparecia na agenda oficial de Bolsonaro, mas o deputado federal Major Vitor Hugo (União-GO) compartilhou imagens do evento.

Uso do medicamento

As Forças Armadas brasileiras autorizaram processos de compra de 35.320 unidades de citrato de sildenafila, conhecido como Viagra. O medicamento é indicado para o tratamento de homens com disfunção erétil. De acordo com dados do Portal da Transparência e do Painel de Preços do governo federal, oito pregões foram homologados entre 2020 e 2021.

A maior parte das aquisições é direcionada à Marinha, com 28.320 unidades. No caso do Exército, foram 5 mil comprimidos; e da Aeronáutica, 2 mil. O comando do Ministério da Defesa, na época, era chefiado pelo ex-ministro Braga Netto, cotado para a cadeira de vice na chapa de Bolsonaro à reeleição nas eleições de outubro deste ano.

O Ministério da Defesa enviou uma nota frisando a mesma informação: que “a aquisição de sildenafila visa o tratamento de pacientes com Hipertensão Arterial Pulmonar”. “Esse medicamento é recomendado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o tratamento de HAP. Por oportuno, os processos de compras das Forças Armadas são transparentes e obedecem aos princípios constitucionais”, pontuou a pasta.

CPI

A compra de 35 mil comprimidos de Viagra pode pautar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados. O líder do PSB na Casa, deputado federal Bira do Pindaré (MA), tenta reunir as assinaturas necessárias para a instauração da investigação. São necessárias, no mínimo, 171 assinaturas de deputados para a instauração da comissão.