Sindicato Médico critica superlotação em emergências pediátricas e pede mais vagas e contratações

Situação de Porto Alegre é a que mais preocupa

Presidente do Simers, Dr. Marcos Rovinski. Foto: Ederson Nunes/CMPA

O Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) lançou, nesta terça-feira, a campanha S.O.S. Emergência Pediátrica, que busca alertar sobre a falta de vagas para o tratamento de crianças em hospitais que atendem pelo SUS. “Havia uma tragédia anunciada, pois estávamos em um momento de pandemia, onde a principal necessidade não era a do atendimento às crianças, que ficaram desassistidas nesses últimos dois anos. Logo, por causa do isolamento social, essas mesmas crianças, agora com imunidade muito baixa, podem se contaminar com outros vírus circulando por aí. Por isso, temos que reforçar nossa rede de apoio com médicos especialistas, capacitados para atender o público infantil”, defendeu o presidente do Simers, Marcos Rovinski, em entrevista a Rádio Guaíba.

O sindicato considera a situação, em Porto Alegre, ainda mais grave em razão do fechamento de leitos em hospitais de referência. A entidade também critica o encerramento das atividades do setor materno-infantil do Hospital São Lucas da PUCRS e o consequente redirecionamento dos pacientes para o Hospital Materno Infantil Presidente Vargas. “O fechamento do setor materno-infantil do Hospital São Lucas não teve como reflexo imediato o aumento de leitos no Hospital Materno Infantil Presidente Vargas. Fato [esse] que nos preocupa, mas já estamos em contato com as autoridade para tentar resolver essa situação (…) É importante ressaltar que não basta existirem as vagas, mas também gerar condições seguras para o trabalha do profissional da medicina”, ressalta Rovinski.

Porto Alegre conta com 68 leitos pediátricos em hospitais que atendem o SUS – sendo 20 deles destinados especificamente à emergência psiquiátrica no Hospital Materno Infantil Presidente Vargas (HMIPV). Já o número de pacientes era de 92, nesta terça, conforme dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

O Hospital da Restinga enfrenta a situação mais grave. O local, que dispõe de seis leitos, atende 15 internados, o que configura 250% de lotação. Já o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) recebe 17 pacientes, 189% a mais em relação às nove vagas disponíveis. A situação nas UPAs também preocupa. No Pronto Atendimento da Bom Jesus, 13 crianças eram atendidas, nesta terça, em um local com cinco leitos, o que corresponde a 260% de ocupação.

Além de medidas do setor público, o Simers também pede o aumento do atendimento pediátrico pelos convênios particulares.

Para evitar a superlotação, Rovinski orienta que os pais tenham prudência no momento de buscar o atendimento. O dirigente recomenda que, em casos em que não há urgência ou necessidade de atendimento imediato, seja procurado primeiro o profissional que já acompanha o paciente. “Casos leves devem ser encaminhados ao consultórios médicos ou às unidades básicas de saúde. Não é aconselhável que os pais busquem os grandes hospitais”, reforça o presidente do Simers. “Os pais devem estar sempre alertas aos sinais da criança, e o bom senso é sempre recomendado”, explica.

O Sindicato Médico também defende a criação de forças-tarefa, a exemplo do que ocorreu aconteceu em relação à pandemia de coronavírus. “É uma falha de planejamento. Saímos de uma pandemia na qual o sistema de saúde se mostrou elástico para atender os pacientes de Covid-19. Mostramos que é possível fazer uma força-tarefa”, enfatizou o também diretor do Simers e cirurgião pediátrico Guilherme Peterson. “A sociedade precisa encontrar uma solução. Levantaremos essa bandeira. Valorizar a pediatria é valorizar a vida”, frisou.

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou, em nota, que no prazo de duas semanas devem ser abertos mais sete leitos pediátricos no Hospital Restinga e Extremo Sul e 20 leitos de enfermaria no Hospital Materno Infantil Presidente Vargas (HMIPV). Ainda conforme a pasta, em maio, uma emergência pediátrica passa a funcionar no Hospital Vila Nova.

Vagas em queda

Conforme a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), nos últimos quatro anos oferta de leitos pediátricos pelo SUS se reduziu. O Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) apontou, em fevereiro de 2018, que a rede pública de Porto Alegre tinha 389 leitos pediátricos e 105 leitos de UTI pediátrica. Já em fevereiro de 2022, os números caíram para 293 e 84, respectivamente.

A redução da oferta deveu-se, especialmente, ao fechamento do setor Materno-Infantil do Hospital São Lucas da PUC, e à redução da oferta do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e da Santa Casa, ressalta a pasta. A SMS destacou, de outro lado, a abertura de oito leitos no Hospital da Criança Conceição e disse que negocia com a Santa Casa para reativar outros 16.