Bebida nos Estádios: chefe de Polícia do RS admite não ter dados para comprovar que proibição surtiu efeito

Apesar do posicionamento contrário, delegada Nadine Anflor se disse aberta ao diálogo e defendeu o banimento de arruaceiros dos estádios de futebol

Foto: Ricardo Giusti/Correio do Povo

A chefe da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, delegada Nadine Anflor, afirmou em entrevista à Rádio Guaíba, nesta terça-feira, que não pode dizer que houve diminuição da violência após a proibição do consumo de bebidas alcoólicas em estádios gaúchos de futebol. A afirmação se deu pela ausência de dados estatísticos que comprovem a efetividade da Lei Estadual que proíbe a venda e o consumo de álcool dentro das arenas desde 2008.

Um dos órgãos responsáveis por garantir a segurança dos torcedores gaúchos nos estádios de futebol, a Polícia Civil é responsável por lavrar ocorrências policiais durante os jogos e auxiliar no policiamento do entorno. Questionada pela reportagem, a delegada Nadine manteve o posicionamento contrário de 2019, quando outro projeto de lei com o mesmo objetivo passou na Assembleia Legislativa, mas acabou vetado pelo governador Eduardo Leite. Nadine avalia que ainda não há maturidade suficiente na população para que os jogos possam contar com bebida liberada.

“Vamos imaginar que se assim, com essa proibição, ainda temos alguns casos de violência que acontece dentro dos estádios de futebol, imagina se a gente tiver aquele gatilho, que acaba muitas vezes tirando o freio do bom senso ou do limite até onde eu posso ir, que é justamente o uso do álcool dentro dos estádios”, detalhou a delegada.

Em dezembro de 2021, a reportagem da Rádio Guaíba solicitou, através da Lei de Acesso à Informação, dados estatísticos sobre a violência nos estádios antes e depois da proibição, a fim de verificar se a proibição havia surtido efeito. A resposta das autoridades é que esses dados não são tabulados no Rio Grande do Sul. Nadine afirmou que muitas ocorrências não são sequer registradas oficialmente.

“Eu não diria que a violência diminuiu. Eu não afirmaria isso, até porque não tenho esse dado. Quando a gente fala em dado, é o registro de uma ocorrência policial. Muitas vezes a violência não é registrada. Então são simples discussões verbais entre pessoas que estão ali para assistir aquele espetáculo e, muitas vezes, essas discussões sequer geram um registro de ocorrência”, revelou.

Apesar do posicionamento contrário, a chefe da Polícia Civil se disse aberta ao diálogo, defendeu o banimento de arruaceiros dos estádios de futebol e apontou o que pode ser uma das soluções para repensar o posicionamento da instituição atualmente.

“Eu acho que a identificação dessa pessoa antes de ela entrar também faz com que a nossa segurança redobre, e que o comportamento daquele cidadão que vai beber lá fora, ou vai beber lá dentro, sabendo que passou por uma identificação – e que sabem que ele está lá dentro – seja diferente. A partir do momento que a gente tem essa identificação, até a postura daquela pessoa que bebe dentro do estádio acaba sendo diferente”, completou.

Nesta quarta-feira, acontece o segundo jogo da semifinal do Campeonato Gaúcho, entre Grêmio e Internacional, na Arena do Grêmio. A reportagem da Rádio Guaíba vai ao estádio para ouvir o que o torcedor pensa sobre o assunto.