A produção de alimentos alinhada à sustentabilidade ambiental: desafios do produtor (gaúcho) no Mundo Pseudoambiental foi a terceira palestra na programação do primeiro dia da 32ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz, nesta quarta-feira (16). O tema teve como palestrantes o diretor jurídico da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Anderson Belloli, o vice-presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Domingos Velho Lopes, e a engenheira agrônoma, mestre e doutora, pesquisadora do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Mara Grohs.
A moderação do debate foi do presidente da Comissão de Agricultura da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), Silvio Rafaeli. Disse que quem vive na lavoura sabe da sustentabilidade que tem, do que é feito nela, e de quanto os produtores são condenados pela sociedade pseudoambiental. O primeiro palestrante, o vice – presidente da Farsul, iniciou sua fala destacando a iniciativa do presidente da entidade, Gedeão Pereira, em instigar o debate entre as entidades em relação à imagem do produtor. “A produção de alimentos é produtividade, rentabilidade, preço, mas passa também de forma institucional pela imagem do produtor que precisa ser trabalhada em nível mundial e da opinião urbana”, destacou.
De acordo com Lopes, a partir desta constatação a Farsul decidiu criar um grupo focado, trabalhando institucionalmente em todos os setores da sociedade civil. “E isso começa pela imagem mundial. A pauta ambiental hoje é política e não técnica-científica e cabe a nós ir de encontro das soluções. Por exemplo, nós sabemos que uma pastagem bem conduzida dos ruminantes, nós vamos ter um balanço de carbono negativo”, observou, salientando que é preciso dar foco na equipe técnica institucional das entidades para falar a linguagem ambiental. O dirigente destacou, ainda, que é preciso mostrar que o produtor rural do Brasil é exemplo mundial. “Temos que cada vez mais ser eficientes dentro da porteira, mas muito mais de forma institucional”, sinalizou.
Segundo a engenheira agrônoma, mestre e doutora, pesquisadora do Irga, a questão ambiental da lavoura é essencial para o instituto, e a sustentabilidade versus a rentabilidade é um grande desafio para o setor. “Primeiro, a atividade rural tem que ser rentável. Nós temos que investir uma grande quantidade de recursos e usar também recursos naturais. Mas a lavoura de arroz sempre teve que estar junto com a questão da sustentabilidade ambiental por dois fatores: porque nós comemos o grão que produzimos e bebemos a água onde está a lavoura. Então sempre o produtor, os órgãos, principalmente o Irga, tiveram esta preocupação”, enfatizou.
Nesta direção, Mara citou que o Irga juntamente com a UFRGS, a Embrapa e a UFSM há duas décadas já produz dados sobre o monitoramento dos gases do efeito estufa e apresentou algumas informações. “A presença da soja nas Terras Baixas emite, no máximo, 10% dos gases que provocam o efeito estufa comparado com o arroz. Porém, quando nós consideramos o nosso sistema chamado ping-pong – um ano soja um ano arroz – reduzimos o balanço total em 55%”, destacou, lembrando que 40% do cereal produzido está em rotação com a oleaginosa. “É esse tipo de informação que devemos mostrar para a sociedade”, complementou, apontando que na safra passada, quando houve recorde de grãos, os produtores – considerando a produtividade mais a redução de área plantada – diminuíram em 21% as emissões dos gases do efeito estufa”, afirmou, salientando que o produtor precisa saber se defender.
Mara também citou que o uso da água nos últimos anos foi maximizado de 12 mil metros cúbicos por hectare para oito e que são utilizadas cultivares precoces, reduzindo o período de irrigação e antecipando o ciclo do arroz, além do monitoramento da qualidade da água que entra e sai da lavoura. “Há cinco anos não falávamos de plantio direto e hoje temos 10% nas Terras Baixas. Podemos melhorar muito”, apontou, destacando a importância de uma lavoura consciente.
Neste cenário, o diretor Jurídico da Federarroz frisou que o marketing é um gargalo do setor. “Nosso arroz tem extrema qualidade, mas nos vendemos muito mal. Isso é uma culpa que vem de longa data e que temos a responsabilidade de começar a pavimentar esse entendimento”, salientou. Bellolli reforçou a necessidade dos produtores seguirem as regras ambientais, mas também investir neste ponto do negócio.
Por outro lado, o diretor Jurídico da Federarroz apontou que a sociedade precisa desmistificar algumas falácias sobre os produtos agroquímicos, esclarecendo que a atual dose letal destes é muito menor do que na década de 60, citando vários exemplos de ações jurídicas e denúncias por informações incompletas e até mesmo incorretas sobre os químicos. “Precisamos produzir comida para muita gente a preço acessível. Quem vive em Porto Alegre sabe que quase 70% da população está passando fome, tamanha é a pobreza”, alertou.
A 32ª edição da Abertura Oficial da Colheita do Arroz e Grãos em Terras Baixas segue até sexta-feira, dia 18 de fevereiro, na Estação Terras Baixas, da Embrapa Clima Temperado, em Capão do Leão (RS), em formato híbrido com atividades presenciais e on-line. Além das palestras, a programação conta com vitrines tecnológicas, feira, homenagens e ato da Abertura Oficial. A organização é da Federarroz com correalização da Embrapa e patrocínio Premium do Irga e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Informações podem ser obtidas pelo aplicativo Colheita do Arroz ou no site www.colheitadoarroz.com.br.