Vacina brasileira contra a Covid-19 é aplicada pela primeira vez

Estudo clínico vai aplicar imunizante em 90 voluntários; primeira fase deve durar três meses

Foto: Guilherme Almeida/CP

A vacina brasileira contra a Covid-19 deu um passo importante nesta quinta-feira, data de início do primeiro estudo clínico que vai aplicar o imunizante em 90 voluntários de 18 a 55 anos de idade. A fase 1 do estudo vai escolher, de forma randomizada, a dose mais segura e o regime de dose que estimula resposta durável de anticorpos capazes de neutralizar o organismo contra o coronavírus.

“Vamos agora medir a resposta imunológica específica e avaliar a imunidade celular dos participantes”, explicou o médico infectologista Roberto Badaró, responsável pela pesquisa e pelo desenvolvimento da vacina, em cerimônia ocorrida na sede do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), em Salvador.

A expectativa do pesquisador é de que a primeira fase do estudo seja concluída em três meses, e que, se tudo der certo, em um ano ou pouco mais a vacina já esteja disponível.

Na fase 2, com a participação de 400 voluntários, a vacina passa a ter a eficiência testada. A fase 3 é a da administração em larga escala.

Primeira aplicação

O técnico de segurança patrimonial Wenderson Nascimento Souza, de 34 anos, se tornou hoje a primeira pessoa a receber a dose da vacina brasileira. O secretário de Pesquisa e Formação Científica do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (Sepef/MCTI), Marcelo Morales, aplicou o imunizante.

Presente na cerimônia, o ministro de Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, disse que o 13 de janeiro de 2022 é um “dia histórico” tanto para a ciência no Brasil como para o brasileiro. “Neste ano do bicentenário da independência do Brasil, damos partida na independência do Brasil na produção de vacinas. Estamos em um ponto de inflexão na história do Brasil”, disse, ao destacar o papel de resgate que a ciência teve em vários momentos difíceis da humanidade.

Pontes lembrou que existem três tipos de vacinas, as importadas, as licenciadas e as nacionais, aquelas feitas por cientistas do país. “É importante para o país ter soberania, autossuficiência e independência na produção de itens tão importantes para a vida dos brasileiros”, disse.

“Daqui para a frente, a gente pode dizer, de forma reduzida, que se o planeta não pode vender vacinas para o Brasil, o Brasil pode vender vacinas para o planeta”, acrescentou.

Vacina

A vacina RNA MCTI CIMATEC HDT é composta de duas partes, misturadas antes da aplicação: uma molécula de replicon de RNA (repRNA) e uma emulsão composta por água e um tipo especial de óleo e moléculas magnéticas, chamada de Lion, que ajuda a proteger a molécula do repRNA, fazendo o transporte até as células alvo.

Uma vez dentro das células, o repRNA é reconhecido como RNA mensageiro pelos ribossomos, estruturas que produzem as proteínas, com as instruções trazidas pelo RNA. O replicon, fabricando pelos ribossomos, gera várias cópias de si mesmo e, depois, as proteínas do coronavírus, que são quebradas em pequenos pedaços e expostas ao sistema imunológico. O organismo então identifica os fragmentos como algo estranho e passa a produzir anticorpos contra o novo coronavírus.

Segundo o infectologista Roberto Badaró, a vacina brasileira, que é de terceira geração, vem com alguns benefícios específicos, como o uso de um número menor de componentes, podendo ser aplicada em doses mais baixas e sem a necessidade de seguidas imunizações. “Poderemos, em um sequenciamento e com a capacidade de sintetizar em uma única proteína as cinco variantes, ter uma vacina com as cinco variantes, no futuro”, explicou o médico infectologista.

O desenvolvimento pré-clínico e clínico da vacina conta com a participação dos Estados Unidos, Brasil e Índia, por meio de parceria entre as empresas HDT BioCorp. (Estados Unidos), Senai Cimatec (Brasil) e Gennova Biopharmaceuticals (Índia). No Brasil, a parceria ainda recebe apoio da RedeVírus e financiamento do MCTI.