Infectologista alerta para coinfecção por Covid-19 e Influenza no RS: “É questão de tempo”

Pelo menos três estados informaram diagnósticos positivos para "Flurona": Ceará, São Paulo e Rio de Janeiro

Foto: Mauro Schaefer/CP

No momento em que surgem os primeiros casos no País de infecção simultânea pelo coronavírus e Influenza, a chamada de “Flurona”, o Rio Grande do Sul reforça o alerta à população para a necessidade de redobrar os cuidados a fim de evitar a disseminação dos vírus em paralelo. Pelo menos três estados informaram diagnósticos positivos para “Flurona”: Ceará, São Paulo e Rio de Janeiro. Diante desse cenário, especialistas defendem a importância de ampliar os testes para Covid-19 e Influenza, mas garantem que a confirmação do primeiro diagnóstico é questão de tempo.

Infectologista do Hospital Nossa Senhora da Conceição (HNSC), André Luiz Machado critica o reduzido número de testes para Influenza oferecidos na rede de saúde de Porto Alegre. “Não dá para ser tão categórico em afirmar que não temos (casos de “Flurona”). A gente está testando menos Influenza do que deveria. E isso muito se deve ao fato da facilidade que se tem pra testagem para Covid-19 em farmácias com testes de antígeno”, explica. Machado ressalta que muitas pessoas vão à farmácia e fazem teste de antígeno para Covid-19. E quando o resultado é negativo, ‘fica por isso mesmo’. “A gente não vai ser diferente de outros países em relação a não ter Flurona. Vai ter, já deve ter. É uma questão de tempo”, salienta.

Tratamento
Na avaliação do infectologista, nas situações em que aparecem sintomas de síndrome gripal, principalmente aliados a fatores de risco, é preciso associar o tratamento para Influenza. “É uma doença grave, principalmente nos extremos de idade, nas crianças com menos de seis anos, nos idosos (adultos com mais de 60 anos) e grávidas. Essa população, se apresentar síndrome gripal, não deve postergar o tratamento para Influenza a despeito de um resultado de exame em que foi na farmácia, fez teste antígeno e deu negativo para Covid-19”, alerta.

Conforme Machado, o crescimento da demanda por atendimento em unidades de saúde desde a virada do ano é um indicativo de que as aglomerações de fim de dezembro já refletem nos pronto-atendimentos. E isso pode começar a comprometer o nível de assistência de saúde, principalmente no nível terciário, que é a internação. “Ninguém quer voltar a medidas restritivas que tivemos no primeiro semestre de 2021, mas se a população continuar com uma postura de ‘aglomerar’ e achar que estar vacinada para Covid-19 a deixa plenamente imune e a permite dar um passaporte de frequentar ambientes aglomerados, a gente vai sofrer uma consequência muito significativa em pouco tempo”, justifica.

Até a tarde desta terça, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) não havia registrado nenhum caso de “Flurona” no Rio Grande do Sul. A pasta esclarece, no entanto, que o Laboratório Central de Saúde Pública do Estado do Rio Grande do Sul (Lacen-RS) mantém as análises de exames. Em Porto Alegre, conforme a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), nenhum paciente testou positivo para dupla infecção por Covid-19 e gripe. “Como a gente tem duas doenças de transmissão respiratória, é questão de dias, na minha opinião, para a gente fazer o primeiro diagnóstico de ‘Flurona'”, considera Machado.

Para o infectologista, é importante que o Estado proveja a assistência primária, secundária e terciária de exames para Influenza e abasteça as farmácias com o medicamento Oseltamivir (Tamiflu) para tratamento da Influenza. “Essa medicação, quando começa até 48 horas após início da síndrome gripal, que é febre com dor de garganta, com tosse, muda a evolução da doença. Só que a gente precisa buscar mais o diagnóstico”, reforça.