Anvisa não participa de audiência pública sobre vacinação de crianças

Agência foi convidada, mas enviou ofício frisando já ter se posicionado sobre tema em parecer público

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não participa de audiência pública organizada pelo Ministério da Saúde, nesta terça-feira (4), sobre vacinação contra Covid-19 de crianças de 5 a 11 anos. A agência foi convidada pelo Ministério da Saúde, mas informou em ofício enviado nesta terça que não iria comparecer por já ter emitido um parecer público aprovando a vacinação do público nessa faixa etária no dia 16 dezembro do ano passado.

“A aprovação da Anvisa veio após uma análise técnica criteriosa de dados e estudos clínicos conduzidos pelo laboratório Pfizer, no qual se atestou que a vacina é segura e eficaz para o público infantil. Para a avaliação da ampliação da faixa etária dessa vacina, a Agência contou com a consulta e o acompanhamento de um grupo de especialistas em pediatria e imunologia que teve acesso aos dados dos estudos e resultados apresentados pelo laboratório”, informou a agência em ofício.

A Anvisa frisou que participaram da avaliação especialistas da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI) e Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

A agência ainda ressaltou, em resposta ao ministério, que encaminhou no dia 23 de dezembro uma resposta ao documento “Questionamentos sobre vacinação de crianças brasileiras – 45 médicos”, a qual detalhou todo o cenário de aprovação e uso das vacinas contra Covid-19 no Brasil e no mundo, além de ter explicado “o processo e os dados avaliados para que a vacina Comirnaty (produzida pela Pfizer) tivesse sua segurança e eficácia aprovadas para crianças de 5 a 11 anos”.

“Ressalta-se também, que esta Agência já emitiu seu posicionamento em relação ao tema “vacinação contra a COVID-19 em crianças de 5 a 11 anos”, o qual se encontra público e disponibilizado às diversas autoridades médicas, sociedade e a este Douto Ministério da Saúde”, pontuou.

Depois que a Anvisa autorizou o uso da vacina Comirnaty, da Pfizer, em crianças, houve muita resistência por parte do governo federal, com falas do presidente que questionam a segurança do imunizante. O presidente Bolsonaro e o ministro Queiroga já se manifestaram favoráveis à exigência de prescrição médica para que as crianças sejam vacinadas.

A medida é questionada por especialistas, que dizem que a ação pode retardar e dificultar a vacinação de parte da população que tem dificuldade de acesso a médicos. O ministro da Saúde chegou a criticar prefeitos e governadores contrários à exigência, com o argumento de que a maioria não é da área da medicina.

No último dia 27, Bolsonaro afirmou que não vai vacinar a filha, Laura, que tem 11 anos, contra a Covid-19. “Espero que não haja interferência do Judiciário, porque a minha filha não vai se vacinar, [quero] deixar bem claro”, afirmou, referindo-se ao STF (Supremo Tribunal Federal). Ele está desde a data no litoral de Santa Catarina, em São Francisco do Sul, onde passa alguns dias de férias com a família. A previsão de retorno é terça-feira (4).

Em pronunciamento no último dia 31, o presidente voltou a falar no assunto. “Também, como anunciado pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, defendemos que as vacinas para crianças entre 5 e 11 anos sejam aplicadas somente com o consentimento dos pais e prescrição médica. A liberdade tem que ser respeitada”, afirmou.

A postura é amplamente criticada pela sociedade científica, tendo em vista que a vacinação foi autorizada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). A SBC (Sociedade Brasileira de Pediatria) já defendeu publicamente a vacinação de crianças contra a Covid-19. Outros órgãos e entidades também já se manifestaram em defesa da segurança da vacina em crianças, como a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), que produz vacinas no Brasil.