Elissandro Spohr incentivou banda a usar pirotecnia na boate Kiss, acusa promotora

Lúcia Helena Callegari afirmou que nunca houve na boate alguma instrução sobre como agir em caso de incêndio

Promotora durante o décimo dia de julgamento | Foto: Ricardo Giusti/CP

Segunda a fazer a réplica como representante do Ministério Público, a promotora Lúcia Helena Callegari mostrou durante a sessão no plenário no Foro Central de Porto Alegre, um documento de relato de uma testemunha, apontando que o réu Elissandro Spohr supostamente incentivou a banda Gurizada Fandangueira a utilizar artefatos pirotécnicos na boate Kiss. O pedido do acusado tinha a intenção de fazer o grupo musical entender que os fogos atraíam público para o estabelecimento. “Se assume ou não se assume o risco que as coisas aconteçam. E o que se diz às bandas? Vai estar lotado, então vocês têm que usar”, afirmou no julgamento.

A argumentação da promotora contrasta com o depoimento de Spohr. Na quarta-feira, o acusado afirmou que não tinha conhecimento sobre apresentações envolvendo fogos de artifício. “Nunca vi uma banda fazer aquilo”, alegou na ocasião. Callegari também mostrou ao plenário uma reportagem onde são apresentadas as diferenças entre artefatos pirotécnicos para ambientes diferentes – fechado e aberto.

A promotora afirmou que o gás que matou as pessoas na Kiss, provocado do contato do fogo com as espumas no teto da casa, era o cianeto, mesmo utilizado nas câmaras nazistas durante o holocausto. “Imagine a dor que é morrer asfixiado sem conseguir respirar. O gás que matou foi usado nas câmaras de gás do nazismo”, destacou.

De acordo com a promotora, nunca houve na boate alguma instrução sobre como agir em incêndios, tampouco atenção ao estado dos extintores. “Se usava fogos sem buscar qualquer forma de controle”, acusou. Callegari apresentou, ainda, um outro vídeo durante a exposição dos argumentos de acusação. Ela mostrou um documentário com relato de sobreviventes afirmando que a Kiss operou superlotada no dia da tragédia. Também questionou a influência do réu Mauro Hoffman, que alega ser um sócio apenas investidor, sem poder nas decisões. “Ninguém quer assumir responsabilidade”, enfatizou.

Mais cedo, o promotor David Medina, primeiro a falar pelo MP, disse que os réus no Caso Kiss querem se isentar e culpar o poder público pelo incêndio em Santa Maria. “A que ponto nós chegamos: aqueles que colocaram fogo, se isentam da responsabilidade, atribuindo a culpa ao poder público”, afirmou

O juiz Orlando Faccini Neto determinou intervalo na sessão de hoje. Após a pausa, a defesa dos réus vai ter direito a uma tréplica, antes dos jurados se reunirem em sala secreta para o veredito do julgamento.